quinta-feira, dezembro 31, 2009

Caro fulano que trata dos desejos para 2010:

Sabes que não sou de te pedir "coisas", também não peço ao Pai Natal, aliás, acredito nele tanto como em ti, mas acho que este ano vou abrir uma excepção. Não é por nada de especial, vá, talvez porque vou atingir uma idade redonda durante o ano que começa mais logo ou então porque me deu só para seguir o espírito de manada que a maioria das pessoas adopta nesta altura; bem, em suma (e porque não tenho mesmo que me justificar) porque me apeteceu. Não sei bem por onde começar portanto se isto não tiver muita lógica tem lá paciência, está bem?
Primeiro, para ser muitíssimo original e objectiva, quero que 2010 seja muito melhor que 2009. Esta é fácil, qualquer coisa é melhor que 2009.
Segundo, quero ter saúde. Esta também não é nada original mas é mesmo essencial, não é por nada que toda a gente a quer. Eu sei o que é não ter saúde, já vi o que isso fez a outras pessoas e acredita que é mesmo uma treta, sem esta bem me podes dar milhentas outras coisas que nada feito, portanto desenrasca-te. (Se não for pedir muito nesta eu incluía também parar com as drogas visto que tem tudo a ver).
Terceiro, quero tempo. Para tudo; para trabalhar, para ir arejar depois do trabalho, para mim, para ler, para viajar, para pintar, para rir, para os amigos que já existem e para os novos que hão-de vir, para a família e para tudo o resto. Esta também te devem pedir muito, se dás aos outros não vejo porque não me hás-de dar a mim também. Aumenta os dias ou as horas por exemplo (queres uma dica: mexe no Césio).
Quarto, quero dormir como deve ser (não é aqui que deves cortar para me dares mais tempo, ok?).
Quinto, ... ... ... ... assim de repente não estou a ver mais nada. Agora fui original, hein? Não te pedi o euromilhões, nem uma Birkin nem nada. Se tratares dos pontos anteriores eu cá trato do resto.
Se me lembrar de mais alguma coisa logo aqui volto, entretanto podes ir começando.
Obrigada,
I.
PS: Um óptimo 2010 à multidão que por aqui passar.

terça-feira, dezembro 29, 2009

Perguntas

Há dias em que me pergunto mesmo o que é que ando aqui a fazer. Aqui, neste mundo, mas porque é que eu existo, que raio de importância tenho eu no meio de toda esta gente que vive neste planeta, já nem falo dos outros (planetas, claro). Se eu desaparecesse isso faria diferença a quem, porque é que me levanto todos os dias de manhã para fazer sensivelmente sempre as mesmas coisas mesmo que eu ache que não, que sou original no que faço e que até ocupo o meu tempo de forma diferente, que sentido tem esta minha vidinha afinal? É para ter algum sentido at all? Chateiam-me os fulanos que tiram um sentido para a vida de cada livro que lêem ou de cada filme que vêem, será que não estou a ser uma chata para mim própria ao insinuar que tenho que ter um propósito para cá andar? Não posso só gostar ou não gostar de viver e pronto, tal qual como se gosta de um livro ou de um filme? (Filosofia barata a estas horas é sono, só pode.)
Deve ser porque nesta altura anda tudo preocupado em fazer balanços e eu não tenho grande coisa para balançar, é que até ao lavar dos cestos é vindima e ainda faltam 3 dias para o ano acabar. Isto até rimou, só pode querer dizer coisa boa. É remoto mas é possível, as probabilidades dizem que é, posso conhecer o homem da minha vida, não, melhor, a relação da minha vida (o Júlio Machado Vaz lá sabe), posso ganhar o Euromilhões, posso morrer, posso muita coisa, posso conseguir mais nestes 3 dias do que nos 362 que já passaram.
(Acabei de ver a Filomena Cautela a espetar um chocho ao João Manzarra. Linda, a cara dele.)
Isto amanhã muito provavelmente já passou, dá-me assim de vez em quando, (já) não é grave, acho eu. Vou dormir que o teu mal é sono, estás como uma bola, já dizia o meu avô.

sábado, dezembro 26, 2009

Cidade Inbicta

Há anos que não ia ao Porto mas soube-me tão bem lá voltar... O dia esteve lindo, frio e solarengo como se querem os dias de inverno, ou pelo menos como eu os quero porque é assim que gosto deles. Passeio não houve muito mas houve conversa à volta da mesa, sentadas no sofá e por fim em volta de um chá de tília, sem acúcar.






sexta-feira, dezembro 25, 2009

As pessoas

Acho que já falei delas há uns tempos. A grande maioria não me diz nada, se calhar (e é o mais provável) eu também não digo grande coisa à grande maioria das pessoas que me passam pela vida; temos pena, é assim mesmo, não conseguimos agradar a Gregos e a Troianos.
As pessoas dividem-se então entre as que interessam e as que não interessam. Não, não sou interesseira, de todo, mas é que mesmo nada, quem me conhece pode atestar mas isso também não interessa agora; adiante. As que interessam (para mim, claro) são aquelas que à primeiríssima impressão me suscitam um sentimento que nunca consegui explicar muito bem. Não sei se é simpatia, se é confiança, se é genuinidade mas se houvesse uma só palavra que exprimisse estas três "coisas" acho que seria essa. Se a pessoa me inspira isto tudo, maravilha; senão, a minha boca fecha-se a sete chaves e a minha expressão fica horrívelmente desagradável, pelo menos é o que dizem os que me rodeiam. Portanto, se me virem pela primeira vez e eu não vos dirigir a palavra ou apenas responder por monossílabos isso é muito mau sinal. Se sorrio e falo então está tudo bem. Sou tão básica quanto isto, ou tão estúpida quanto isso, depende da perspectiva.
Para aqueles de quem gosto, não sou aquela parvinha que está sempre a sorrir e que trata toda a gente por "inha" ou que diz precisamente o que as pessoas estão à espera de ouvir. Se estiver mal-disposta isso nota-se, se não concordar com alguém digo-o (agora com muito mais tacto que antes), uso muito (demais) a ironia e há quem não entenda (mais do que se pensa). Não sou má, não sou, mesmo. Acho que me pareço com um limão por fora, ou uma lima, uma lima parece sempre mais azeda que um limão; mas por dentro não tem nada a ver. Há pessoas que conseguem tirar a radiografia à lima e ver que por dentro há uma manga madura (assim de repente não estou a ver fruta mais doce que manga madura). Há pessoas que não se deixam enganar pela minha carapaça como me disse a S. esta semana.
"Tu a mim nunca me enganaste... Essa pessoa horrível que tu achas que projectas, eu nunca a vi e quando te via a "actuar" só me dava vontade de rir."
Que leu algures que "Por detrás de um cínico está quase sempre um grande sentimental". Não sei se isto é ser cínico, talvez. Vou procurar ao dicionário.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Boas Festas, agora a sério

O que quero para os outros é exactamente o que quero para mim:
Que passem umas boas Festas na companhia dos que mais gostam e, se assim o desejarem, que tenham muitas prendas :)
I.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

As festas

Hoje estou de abalo para cima para a romaria habitual a "casa" para as festas sejam elas quais forem. Estou eu e deve estar metade do país, ou metade de Lisboa que para alguns é a mesma coisa mas adiante.

Hoje estou de abalo para cima portanto, ontem, estive de mala, o que é sempre uma operação penosa. Acontece que desta vez simplifiquei; meia dúzia de trapos lá para dentro, um par de sapatos, as prendas, o sem fim de cabos completamente indispensáveis, dois livros, espaço para enfiar o nécessaire de manhã e já está! 10 minutos no máximo, a loucura da eficiência. Depressa e bem não há quem, é mentira, está provado.

Hoje estou de abalo para cima portanto, mais logo, vou pôr a minha paciência à prova, para chegar a Sete Rios, para entrar na segunda circular, para aguentar a A1 e aí por diante até chegar a casa. 5 horas no mínimo, a loucura da lentidão. Devagar se vai ao longe, diz que é verdade, vamos ver.

Sei lá que mais dizer... É bom ter onde ir passar as festas, isso é. Dá uma trabalheira, pois dá. Mas vale a pena, acho que vale. E não é pelas prendas porque, que eu saiba, não vou receber nenhuma, é o combinado lá em casa. Prendas só para as crianças.

Então um Feliz Natal, seja lá o que isso for para cada um de nós.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Os colegas que se tornam amigos

Simpatizei com ele assim que o conheci, uns meses depois de ter começado a trabalhar onde estou agora, garoto em corpo de homem, a boa disposição em pessoa, via-se que era genuíno. E era, raramente me engano nestas coisas. Chegava todos os dias com um sorriso, no inverno passava na minha mesa para "roubar" creme para as mãos, não digas a ninguém que ponho creme, eu só me ria.
Passado uns tempos foi embora e passado outros tempos fui eu também para o mesmo sítio. Baptizou-me, não vou dizer de que nome, por conviver praticamente só com homens, uma mulher engenheira é uma treta, ou não, sei lá; então quando queriam ter conversas de "homens" à minha frente eu transformava-me naquela personagem inventada por ele. Tinha uma certa piada, tenho que admitir.
Ele continuava na mesma, pois lá está que eu não me engano, mas eu fechei-me porque me fizeram fechar e porque eu deixei. Ele tentou puxar por mim, vamos nadar (o pior torcicolo da minha vida foi culpa dele, corpo na água quente e cabeça à neve), vamos andar de bicicleta, vamos jantar todos. Vamos, vamos, vamos. Não, não, não.
Até que acho que desistiu, ninguém aguenta muito tempo por muita boa vontade que tenha, soube que desistiu quando me perguntou com uma cara que não lhe conhecia: Mas ó miúda qual é o teu problema pá? Acorda prá vida!
Hoje voltei a vê-lo, dois anos depois. Começou a sorrir mal me viu ao fundo do corredor. Está na mesma, acho que até parece mais novo, está descasado, tem novo amor (desta é que é) e vai ter um bebé que quer que seja menina. As meninas gostam mais dos pais, digo-lhe eu. Faltavas tu para dizer essas coisas. Estás melhor, diz-me ele. Pois estou, qualquer dia vou-te visitar... É quando quiseres!
Olha que vou, olha que vou.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Óleos

No dia em que conseguir pintar maçãs, pêras, copos ou o que quer que seja assim, largo a engenharia, mudo-me para o sul de França e dedico-me à pesca ou à agricultura...
Escuso de ter medo, com o tempo que tenho para praticar, isso há-de ser nunca.

Assim, é como aqui:
Postcards from Provence


Hoje

Só mais 5 minutos.
Pedi este tempo a mim própria hoje de manhã quando o telemóvel tocou; já ninguém tem despertadores, hoje em dia julgo que só já há telemóveis, uma seca tremenda porque não convém atirá-los ao chão ou dar-lhes um valente soco com a mão para os calar, aquilo depois serve para outras coisas também. Aquele acto de deitar a mão para fora dos lençóis para abafar o pi-pi-pi-pi insistente que vem do lado, acho que só existe mesmo nos filmes. De qualquer maneira eu nunca tive nenhum, o simples barulho do tic-tac impedir-me-ia de dormir, os digitais são feios (é uma razão tão válida como outra qualquer) e se estiver de bem com a vida acordo naturalmente à hora que tem que ser.
Concedi-me então 5 minutos. Isto depois de ter dormido uma noite inteira sem interrupção com o meu livro como companheiro do lado, este ao menos não ressona, não encosta os pés gelados aos meus e não me rouba o edredon. Ninguém precisa de mais tempo depois de uma noite inteira de olhos fechados mas esses miseráveis 5 minutos transformaram-se em aproximadamente 90, pelo menos era isso que dizia o bendito telemóvel a vez seguinte em que olhei para ele.
Sou uma mulher nova. Já durmo como toda a gente, sem drogas, sem tampões de silicone para os ouvidos, sem chá noite tranquila, sem essência de alfazema, sem venda nos olhos, sem sei lá que mais coisas existem para ajudar as pessoas a dormir. Já sei (de novo) o que é querer preguiçar só porque sim durante a manhã e não porque não há nada de interessante neste mundo que me faça querer levantar da cama. Não que tenha algo interessante na minha vida que me faça levantar da cama mas pelo menos não é nisso que penso. E isso já é uma grande coisa.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Conversas

Vai uma pessoa, eu, a pensar na vida, no comboio, a caminho do trabalho, vinda de uma sessão de esfrega matinal (a última antes do ano que vem), não estou a olhar para nada em especial mas sei que a próxima paragem é Benfica porque a senhora do altifalante acabou de dizer.

Olhe como ela cai agora. (é a senhora que vai ao meu lado no banco)
Desculpe?!
A chuva.
Ah, sim, faz falta...
Se faz! Lá para a minha terra qualquer dia não corre água nos chafarizes. Mas isto lá pra cima deve ser de neve, ontem falaram em neve aqui para a serra de Sintra, não sei.
Pois... (a palavra mais versátil da língua portuguesa é esta)
Gosto tanto de neve, quando a gente éramos (ai...) novos, lá pra cima, divertíamos-nos muito. Sabe que nem faz frio quando neva?
Sei... (oh se sei...)
Era mesmo bonito, ver aquilo nas árvores. Agora já ninguém planta árvores, os Americanos até disso deram cabo, os velhos morreram e os novos não querem saber. E depois falta o oxigénio, a gripe A é isso, falta de oxigénio... Ai menina, como isto anda.
Pois... (É quase a minha estação, pego na mala e preparo-me para me levantar)
Bom Natal menina!
Boas festas também para si...

Acho que foi a primeira vez que alguém meteu conversa comigo nos transportes públicos aqui. Há uma primeira vez para tudo...

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Auto-confiança e optimismo é...

... andar há 3, quase 4, anos a subir as escadas do refeitório aqui do trabalho e pensar todas as vezes: É desta que me vou espalhar e dar um espectáculo de graça ao pessoal...

Sonhei?!

Ou a minha cama fartou-se de abanar e sou só eu que cá estou?
Acho que sobrevivi ao meu primeiro tremor de terra... Foi só um aviso? Vem lá alguma onda? Fujo pró castelo?

PS: Não sonhei, não... 6.0...

quarta-feira, dezembro 16, 2009

OST

A banda sonora perfeita para hoje é aquela música da Lily Allen em repeat, como é que é... Fuck you, é isso.
Very, very much.

As noites

22:30, por aí, e estou a cair. Já não ouço a televisão e já nem leio nada de jeito, acho que amanhã vou ter que voltar atrás umas quantas páginas. Vou prá cama, que se lixe, tenho andado a dormir tão bem que hoje de certeza que vai ser igual; caraças, não devia dizer isto tantas vezes ou vai-se virar contra mim. Será que só por estar a pensar isto já estou a condicionar a minha noite? Eu conheço-me, é bem provável.
Abro a cama. Tiro as calças do pijama (não consigo dormir com calças, é mais forte que eu, sempre fui assim, detesto sentir o tecido a enrolar-se pelas pernas e depois aquilo também me faz muito calor) e entro na cama. Não digo asneira mas penso-a, os lençóis estão frios como tudo, tapo-me e fico ali quietinha quase sem respirar a ver se esta sensação passa.
Passou. Viro-me para o meu lado, só pra este lado é que consigo dormir, nem quero arriscar o outro dá muito trabalho e depois se não durmo é uma treta; viro-me então e fico a ouvir a ver se há algum barulho. Não há - incrível - pelo menos nenhum irritante.
Já não me lembro de mais nada.
Acordo.
Deixa ver que horas são, não há barulho que estranho, são 2h e pouco. Agora digo mesmo asneira; eu sabia, o poder da sugestão é este - dois pares de estalos é o que tu mereces - agora trata mas é de dormir, sim? A técnica é o auto-abraço, mão direita no ombro esquerdo a fazer um V no peito, braço esquerdo em torno da cintura, mão na anca direita; deitada sobre a esquerda, o meu lado.
Funcionou, só voltei a ver as horas às 7...

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Confissão

Por vezes tenho a sensação que tenho duas caras; dois blogues e duas caras; um (bem, dois) sítio(s) onde sou eu e uma vida real à vista de todos. Não estou a ser dramática, é só isto que eu sinto e tenho para mim que muita gente por aí sente o mesmo, nem que seja lá no fundinho de si. Li algures por aí; pareceu-me que era em jeito de confissão, talvez me engane, talvez não e também não interessa para o caso; um desabafo acerca de consultas de psicoterapia e revi-me; muito. E pensei, bolas, que coragem dizer isto aqui; eu digo-o, a alguns amigos, a alguns familiares, no meu outro espaço que é fechado, mas não ao povo todo. Porquê? Pois, não sei.

Há 1 ano e 4 meses que faço psicoterapia.

Porque achei que era a última carta que tinha a jogar, porque me sentia tão mal que achei não ia a lado nenhum sozinha, porque ou era isto ou me afundava ainda mais e sobretudo porque tive coragem para o fazer. Não foi fácil tomar esta decisão, tive que pôr de parte o meu orgulho; eu, a I. forte que toda a gente conhecia a pedir ajuda, a não dar conta do recado, completamente atolada numa situação que antes afirmava não compreender nem conceber. Senti-me uma fraca mas estava muito enganada, foi a melhor coisa que fiz.
Tive a enorme sorte de encontrar uma psicóloga em quem confiei imediatamente, com quem estabeleci uma relação empática enorme e com que me sinto perfeitamente à vontade. O facto de me ter sido recomendada por uma grande amiga minha, também psicóloga, ajudou muito acho eu. A paciência que ela tem para mim, a maneira como me ouve e me organiza o pensamento, como me guia no entendimento de tanta coisa, como fez com que mudasse tanto, não sei como lhe agradecer. Se não fosse ela, não estava aqui hoje nem seria quem sou hoje e não, não estou a ser dramática; devo-o a ela mas também muito a mim mesma, que nestas coisas ninguém faz milagres por nós.
Lembro-me de uma imagem que ela me deu nas primeiras consultas. Aquilo que nos faz sofrer assemelha-se a um iceberg; a ponta, o problema que se manifestou, é apenas o que está à vista. A calote que está escondida debaixo de água é que é o problema principal porque é a fonte mas para acabar com ela temos que começar por cima, para ver se encontramos algum alívio mais imediato que nos dê coragem para o resto. Ela tem toda a razão. Acho que já parti a ponta, agora estou a chegar à base e isso leva o seu tempo. Custa, dá muito que pensar, mas sinto que me faz bem.

Bem, é isto. Se servir de incentivo ou de exemplo a alguém, óptimo.

I.

Hoje

Hoje, é um daqueles dias perfeitos. Dormi lindamente, acordei de maneira espontânea, o céu está azul, está sol e frio.

Apetece pegar na bicicleta, calçar as luvas, pôr o gorro e o cachecol e pedalar toda a manhã; mas aqui é difícil, ou então sou eu que acho tudo difícil. Apetece calçar as botas e ir caminhar para um parque qualquer, apanhar folhas, castanhas e caçar girinos com um coador de chá como quando saíamos em passeio com a escola quando era garota; trazia as ditas castanhas toda orgulhosa para casa mas afinal, dizia a minha mãe, não eram castanhas, que desilusão, pelo menos podiam-me ter dito que eram. Os girinos ficavam na escola, para os vermos crescer, para acreditarmos que aquilo se transformava mesmo em sapo, a sorte é que no meu tempo já não se dissecavam; blheuc, que nojo... Bom, pelo menos também não lhes dávamos beijos, o que seria ainda mais nojento, é mais fácil acreditar que aquilo é só um sapo e que nunca há-de ser um príncipe, até para as crianças. As folhas, essas, eram fixadas em cartazes que ficavam nas paredes; é engraçado como nunca perdi essa mania, de apanhar folhas secas do chão em tudo quanto é jardim, colá-las em cadernos e escrever de onde vieram, pedras também apanho e peço que mas tragam de viagens, tenho uma do Japão por exemplo, acho engraçado; pronto, se calhar é um bocado parvo mas não faz mal, dou mais valor a isto do que a uma recordação inútil. Não sei se a garotada ainda faz destas coisas hoje em dia, talvez não, também não foi assim há tanto tempo, pode ser que ainda façam.

Hoje não calçei as botas, nem luvas nem gorro, só enrolei o cachecol ao pescoço e fiz metade do meu caminho a pé. Não pela terra mas pela calçada, que na cidade deve ser mais ou menos equivalente. Não apanhei folhas, pedras, castanhas nem girinos; apanhei o autocarro. Não fui para o parque, vim para o trabalho.

Afinal, hoje é só um daqueles dias quase perfeitos.

I.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Conversas

Os meus amigos-barra-colegas andam, ultimamente, com uma psicose daquelas graves mas mesmo graves. Tipos interessantes, bem parecidos, com quem se consegue conversar lindamente e sobre as mais variadas coisas, com trabalhos estimulantes; agora acham que importante é dinheiro e carro como-deve-ser ou mulheres nada. À hora de almoço ou nas saídas à noite isto é tema recorrente.
Um deles é claramente um player, diz a mesma coisa, mas não em jeito de queixume pois sabe bem ao que anda e com quem se mete mas os outros são solteiros e bons rapazes e eu só pergunto com que raio de tipas é que eles se dão e que raio de gajas é que eles procuram.
Depende de que mulheres querem, digo eu. Ah, que não, que um homem nunca é suficientemente rico nem uma mulher suficientemente magra (esta faz-me lembrar o célebre chavão: ah, os homens são todos iguais...). Este segundo argumento desmonto-o muito facilmente, é só esfregar-lhes na cara uma fotografia de uma fulana anoréctica e está feito. E agora como é que se convence este bando de gajos que, num homem, não é o dinheiro nem tão pouco o carro que se tem ou se deixa de ter que interessa? Que as gajas, digo eu, se estão bem a marimbar se têm um bmw 320d, um clio, uma bicicleta ou se andam de metro; eu própria ando a pé e não acho que seja menos mulher por isso, gasto mais em solas de sapatos que me lixo. Que as gajas, digo eu, se conseguem perfeitamente sustentar sozinhas com o que ganham, que não é propriamente isso que lhes faz falta? Mas é lógico que depende da miúda.
Digo eu, claro.
E o que é que me respondem? Ah, mas tu não contas, estás demasiado habituada a dar-te com homens.
...

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Os bichos IV

Aqui está ela, já se deixa fazer.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Uma mulher...

... não chora. Ou é um homem?
Hoje não sou mulher então. Devo ser um homem com os olhos pretos e a cara vermelha.

I.

A poesia

A poesia é o meu pior pesadelo ainda hoje. Quem raio se lembra de obrigar crianças a escrever poemas? Aquelas horas semanais eram um suplício, ainda pior do que aquelas em que recitávamos a tabuada, nunca aprendi a do 7 e do 8, não sei porquê, estas duas tabelas sempre foram guardadas apenas temporariamente na parte mais volátil da minha memória. Se calhar é porque não interessam, se interessassem sabê-las-ia ainda hoje, mas se isto é verdade então a maior parte das coisas que, supostamente, aprendi não interessam para nada e acho que isso não pode ser. Não me lembro das equações de Maxwell e sem elas o que é que nós seríamos... Bem, adiante (quem quiser saber quais são, a Renova tem um papel higiénico em que estão escarrapachadas, devem ter achado que esta é uma boa maneira de passar tempo na casa de banho, recordar o electromagnetismo).
A poesia, pois. Não tenho veia criativa, acho que sou seca, demasiado literal, não sei fazer isso e quanto mais me obrigam a fazer uma coisa que não gosto, pior (sobretudo se eu estiver convencida que não consigo). É a pressão das linhas que tenho que encher e palavras que têm que rimar (têm, têm, no meu pesadelo têm), e tem que ser escrito em verso e tem uma forma específica, é um sacrilégio se assim não fôr. Porque é que ensinam estas coisas às crianças se depois elas vêm a descobrir que é tudo mentira, ou melhor, que não tem que ser assim? Que pode não rimar, que pode ser tudo seguido e que se podem fazer desenhos com as palavras e tudo? Que pode não ser obrigação nenhuma?
E porque é que temos que decorar e recitar estas coisas como se fôssemos gramofones? Era assim que me sentia quando era a minha vez de recitar, a professora deixava-nos debitar as receitas virados para o quadro se o medo de olhar para a turma fosse demasiado grande. Gramofones autênticos... Ronsard com 8 anos, lembra a quem? A mim traumatizou-me.

I.

PS: Estive a arrumar papelada no sótão este fim de semana, encontrei as "coisas" da primária...

terça-feira, dezembro 08, 2009

As descrições

Naquele dia estava a correr tudo ao contrário do que tinha pensado, o que é que havia ainda de vir mais... Tinha acordado tarde, pequeno almoço na cama, dormir mais, almoço em vez de lanche, banho, coragem para sair de casa, rua cinzenta, autocarro perdido, grandes voltas para chegar onde era suposto ir. A pé do Rato ao Chiado com sapatos totalmente inadequados para a caminhada, lá fui em direcção à minha vidinha, fazer o que era suposto fazer e fico para jantar com uma amiga em vez de voltar para casa.
Pois, agora já não vale a pena ir a casa, vou mas é esperar por ela, outra amiga com quem tinha combinado sair, e o que é que há de melhor para matar tempo do que ler? Para ler preciso de um livro, onde é que há livros, na Fnac, é já ali em baixo, nem é tarde nem é cedo mas está quase a fechar, tenho que me despachar. É nestes (raros) momentos (graças a deus) que me apetecia que as livrarias fossem máquinas distribuidoras em vez de prateleiras de supermercado. Quero um livro mas estou sem paciência, ou tempo, para escolher; era bem mais fácil meter a moeda e sair-me um qualquer; sim podia comprar uma revista da treta mas um livro sempre fica melhor depois na estante lá de casa. Enfim; ando um pouco em direcção à Literatura traduzida e fico a olhar, tanta escolha, pensa I, pensa, o que é que te aconselharam ultimamente? Aquele escritor japonês, como é que se chama? Como é que era o nome do livro, Kafka à Beira Mar não era, bolas eu já li Kafka e ia dando em doida, eu sei que não tem nada a ver mas a simples menção deste nome diz-me que, a ser o Murakami o autor de hoje, vai ter que ser outro livro.
Sputnik, meu amor. Faz-me lembrar Hiroshima, mon amour; diria que é um bom prenúncio, é já este, pego nele, pago, saio e subo a rua a pensar que só há um sítio onde posso sentar-me a ler a esta hora, peço um chá e tudo, a espera não vai custar nada a passar. Grande burburinho lá dentro, janta-se à meia-luz pela sala toda mas há uma mesa vaga lá ao fundo só para duas pessoas, mesmo à janela. É isso mesmo, sento-me, peço o meu chá de hortelã e abro o livro.
"Sumire era uma incurável romântica, com tanto de obstinada como de cínica. Era dar-lhe corda e desatava a falar pelos cotovelos, mas, caso estivesse na presença de alguém que não lhe merecesse simpatia - que é como quem diz, a maioria das pessoas -, mal abria a boca."
(Ora bolas, nunca ninguém me descreveu tão bem...)
Não sei em quanto voou uma hora e meia.

I.

PS: Agora que penso, obstinada sim, cínica não.

sábado, dezembro 05, 2009

Vá, são estas, digam que são feias...

Comprei-as para o caso de precisar delas em Veneza e precisei mesmo. Achei que era um desperdício de dinheiro não as voltar a usar e, verdade seja dita, quando chove dão um jeitão :)
(meu deus, que post tão menina...)

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Estou estupefacta.
As minhas galochas acabam de ser cobiçadas por um meu colega de trabalho :) Perguntou-me timidamente onde as tinha comprado porque diz que queria oferecer umas à namorada. Há pessoal com bom gosto por estes lados...

I.

Os sonhos II

Continuo a dizer, o Sr. Freud e eu teríamos sido grandes amigos, ou não porque talvez só eu sobrevalorize as parvoíces com que sonho. O engraçado é que na maior parte das vezes até consigo relacionar os filmes que vejo durante a noite com o meu dia a dia mas desta vez nem por isso.
Então a história, esta noite, passou-se no meu local de trabalho, um dos meus palcos preferidos ultimamente devo dizer. Andava eu a cumprir algumas das minhas tarefas habituais, de um lado para o outro, sobre escadote, desce escadote, liga cabo, tira cabo, desliga energia, liga energia, faz as maiores barbaridades ao sistema, espera que ele recupere, pardais ao cesto, etc e tal, quando... duas componentes começam a fumegar. Primeiro o fumo é branco, depois torna-se preto, faísca e finalmente aquilo começa a arder. O que faz a menina I. perante tal cenário, pois fica especada à frente daquilo como se estivesse a apreciar o fogo de artifício (que não aprecio de todo...) do 14 de Julho ao pé do rio. Aquilo alastra ao resto da coisa, o alarme não toca e ninguém se mexe. Saio para o andar de baixo, fecho a porta corta-fogo e pronto, ficaram todos lá dentro.
Depois disto até já gosto de sonhar que ando descalça na rua ou que ando às voltas num barco virado ao contrário.
Internem-me que estou a precisar...

I.

PS: Não sei se foi por ter ficado traumatizada com o sonho mas troquei de mala e deixei as chaves do meu bloco em casa... Voltei a casa buscá-las? Não; pedi ao meu chefe que me arrombasse a coisa para poder tirar de lá o portátil. E não é que ele abriu aquilo em menos de 2 minutos??

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Banalidades

Abri isto porque me apetecia escrever mas estou com a página em stand-by há um bom bocado de tempo. Se calhar não me apetece assim tanto ou então não tenho nada para dizer, ainda não decidi.
Banal seria falar do feriado, de como demorei tempos infinitos a chegar à Baixa por causa da comitiva que se passeava por Belém, de como ia morrendo abafada no Chiado de tanta gente que lá andava (bem feita, para que te foste lá meter?), de como esta época me enfada pelas atitudes que vou vendo.
Não fui comprar prendas de Natal, fui comprar uma prenda de aniversário; curioso, quem me conhece sabe que raramente dou prendas. Nem no Natal, nem nos anos, nem na Páscoa, nem porque te portaste bem, nem porque é dia da Mãe, do Pai, da criança ou da árvore. Só dou porque quero, porque me faz sentido, porque gosto da pessoa, não porque está na altura e parece mal não dar. Aquilo que grande parte das pessoas sente nesta altura, Ai que não sei o que oferecer à prima Clementina e ao tio do Manel; eu detesto sentir. Soa-me a obrigação, a imposição, é Natal logo têm que se oferecer presentes mesmo que não se saiba o quê ou que a pessoa nem nos diga nada.
Banal seria falar de como voltei a olhar para todas as pessoas que se passeavam por ali e de como voltei a sentir exactamente a mesma coisa que há uns tempos atrás.
Banal seria não falar de quê?

Blogger templates