sexta-feira, maio 28, 2010

Pas de nouvelles, bonne nouvelles

É do senso comum e no meu caso, estes dias, tem sido verdade. 
Temos casa, temos cadeira mesmo antes de ter cama ou sofá, temos trabalho a dar com um pau, temos as férias adiadas por causa do trabalho a dar com um pau (ok, esta não é assim tão boa), temos tido óptimos momentos, temos dormido muitíssimo bem e temos um lábio que, não estando bom, está bem melhor. 
Não sei o que hei-de dizer mais.

segunda-feira, maio 24, 2010

Os jardins

Fazem parte da minha vida desde criança. Era para lá que o meu pai nos levava religiosamente todos os domingos, passávamos horas a brincar enquanto ele ficava na conversa com os amigos. Acho que eram amigos dele mas para não mentir posso-lhes chamar de companheiros das tardes de domingo no jardim, assim está melhor.
Havia dois na mesma rua, separados por uma estrada, com entradas frente a frente. Um era o dos grandes, o outro era o nosso, aquele onde havia os sítios mais giros para brincar: o rectângulo de areia, os baloiços, os torniquetes, as casas de madeira, os escorregas, o lago para os barcos, os trilhos para as bicicletas e os passeios para os patins só que naquele tempo não eram em linha, eram com quatro rodas e ajustavam-se aos próprios sapatos. Os meus até davam para esticar consoante o tamanho do pé, vermelhos e amarelos, ainda me lembro, valentes tombos que dei com aquilo pela rua abaixo... Durante anos levei o meu balde para aquele sítio, juntamente com a pá e os moldes; ia buscar água ao lago para molhar a areia, tinha muito mais piada assim. Depois, o meu irmão herdou os meus pertences e eu passei para os escorregas e para os baloiços; havia uns de ferro vermelho em que se andava dois a dois, frente a frente, para mal dos meus pecados rapidamente deixei de lá caber, já és muito grande, já não podes, deixa andar os pequeninos. Até deixei de caber nas casotas de madeira, aquelas coisas que me pareciam grandes fortificações passaram a ser pequenas demais para que eu pudesse lá entrar; meu Deus, tinha tanta inveja do meu irmão... Desconfio que o sentimento era recíproco porque ele perguntava sempre porque é que não tinha patins; somos uns eternos insatisfeitos é o que é. No entanto, havia um momento em que estávamos sempre de acordo sobre o que fazer: era quando ouvíamos a carrinha dos gelados. Nem sempre éramos atendidos nos pedidos que fazíamos porque era suposto irmos para casa lanchar mas por vezes lá calhava e lá vínhamos todos contentes com um copinho, uma colher e uma bola; tínhamos tanto jeito para comer aquilo que por mais do que uma vez o manjar acabou por dar jeito às formigas. Numa palavra, ou em duas: era engraçado.
Ontem, na Gulbenkian, sentada na relva entre o sol e a sombra, vigiada por pombos empiolados nas árvores, lembrei-me disto tudo. Também havia criançada a brincar, dois miúdos reguilas descalços, a menina parecia uma boneca, loirinha. Um garoto pequenito vestido com um equipamento do Benfica dava pontapés numa bola com o pai, quanto me haviam de pagar para vestir uma coisa daquelas a um filho meu, juro que pensei isto... Casais idodos, amorosos, sentados nos muros baixos a fazer de banco, liam jornais, seguravam as folhas um para o outro.
A mim, se calhar, faltava-me um livro, tenho três ou quatro em lista de espera e aquele lugar é perfeito para isso. De resto? Tinha tudo. Pretty much...

quinta-feira, maio 20, 2010

Quando tenho sono

não se deve ligar ao que eu digo. Sobretudo quando já estou naquele limbo entre o verdadeiro mundo cá de fora e o meu mundo de dentro em que nem eu mando.
Falar de olhos fechados, demorar muito tempo a responder e falar muito baixinho, diz que são sinais que vem aí discurso disconexo, fora de contexto, o total disparate. Nesses momentos, os meus ouvidos continuam a captar o que me estão a dizer mas da minha boca, o que vai sair na certa, é o que estou a pensar para mim e isso acho que é incontrolável. Pode por exemplo dar-se o caso de a uma pergunta sobre um filme eu responder acerca de panelas de pressão, ou depois de um comentário sobre um acidente eu começar a falar de cascas de nozes.  Vazias. Isto já aconteceu mesmo, posso dizer que a parte da panela de pressão até percebi de onde veio, as nozes não faço ideia...
Há uns tempos atrás acontecia-me muito, em conversas comuns, em pleno dia e em plena posse de todas as minhas faculdades mentais, acho eu, trocar os termos nas orações; o adjectivo com o sujeito, o complemento com o verbo e acho que era só, como diria a minha mãe: já não era pouco. O pior é que eu não dava logo conta que tinha acabado de dizer asneira e ficava espantada com os silêncios que se seguiam a eu ter falado. O que é que eu disse agora?, revia mentalmente os segundos anteriores, apercebia-me e tinha vontade de bater na testa. Lá corrigia, fazia figura de parva só mais um bocadinho e todos esboçavam um sorriso. Já não me acontece tanto agora, por acaso nem me lembro da última vez, ainda bem.
Mas mau; mau; mesmo péssimo sinal é quando não falo. Quando não respondo, já para não falar nos casos em que não ouço sequer. Desses é que é preciso ter medo. Enquanto continuar como estou sempre nos vamos rindo.

quarta-feira, maio 19, 2010

Rescaldo II

- Já não tenho pontos!
- Mas agora tenho comichão...
- Ainda não me posso rir.
- E parece que toda a gente se combinou para dizer palhaçadas à minha frente.
- Beber café, só por uma palhinha (patético).
- Sopa e coisas quentes, também.
- Ainda tenho duas caixas de gelados quase inteiras no congelador...
- Vou aproveitar que agora ainda tenho desculpa para comer disso.

terça-feira, maio 18, 2010

Aquelas coisas

O comportamento ostensivo incomoda-me, por vezes mesmo muito, penso que é porque não sei como me comportar eu própria perante essas manifestações.

Não acho que todos devamos seguir uma vida de Franciscano nem que as pessoas não devam gozar o que possuem por direito, quer seja porque trabalharam para isso ou só porque, quando vieram ao mundo, tiveram notas de 500€, ou cheques de 100 contos vá, por cueiros em vez das tradicionais fraldas de pano a que a maior parte dos que foram bebés ao mesmo tempo que eu tiveram direito. 
Não acho tão pouco que quem se pode dar a luxos, porque falo de luxos, se tenha que sentir mal ou culpado por o poder fazer. Já que mais não seja porque a culpa é um dos mais horrorosos sentimentos que há. Sempre houve diferenças no mundo e sempre as haverá, é pena mas é assim, sempre houve quem vivesse muito bem, bem, mais ou menos, mais para menos, mal e quem não viva de todo segundo alguns. É assim a vida.

Percebo que se goste de "coisas" bonitas, ditas boas, ditas de qualidade, percebo isso tudo; percebo que se possa encontrar satisfação em possuir um objecto, em dormir em lençóis de algodão egípcio de 3600 fios por metro quadrado, em ter uma sanita que nos lave o rabinho depois de a termos usado ao mesmo tempo que nos distrai com música ambiente, em dizer que se anda a 30km/h de todo-o-terreno-topo-de-gama na 2ª circular, exemplos há muitos é só escolher. Não deixo de achar certas coisas um tanto ou quanto ridículas mas percebo; mesmo. Eu própria gosto de certas coisas que muito provavelmente não cabem na cabeça de muita gente. Percebo e respeito, mesmo que fale num tom que não o denota, é que não consigo falar de outra maneira por causa da parte que não entendo e que é a seguinte: que se grite isto tudo aos 4 ventos. Como  geralmente não consigo falar disto de forma neutra, calo-me, não vá ferir a susceptibilidade de alguém.

Ainda um dia gostava que me explicassem qual é o prazer que se tira em mencionar marcas em conversas como se se falasse do tempo, em andar com logótipos atrás, em exibir o que se possui. As coisas ganham valor se se fizer assim ou é a descarga de adrenalina que é maior quando se fala nisso? Fica-se superior a alguém ou a alguma coisa? As pessoas afirmam-se assim, não basta terem, saberem que têm e usufruir? Nada disto conta se não se mostrar? Querem ver que têm orgasmos de cada vez que mencionam uma marca, um objecto que tenham o, que vão ter ou que almejam? É que se é isso, já deviam ter dito. Deixa ver. Jaeger Le-Coultre! (nada...) Cartier! (epá, nada...) Bang & Olufsen! (bolas... nada) Manolo Blahnik! (fogo, também não...). Então não sei.

Classe não é isto. Isto eu chamo pobreza de espírito.

segunda-feira, maio 17, 2010

Rescaldo

O tempo é relativo, toda a gente sabe, mas estes dias em casa o desgraçado não queria passar. Se fosse com a mão numa placa de fogão de certeza que era mais rápido, a parte dos braços da rapariga gira não se aplica ao meu caso (isto tem uma lógica, mas acho que já me estou a repetir)... Bem tentei enganá-lo e a mim também mas a coisa não foi fácil: arrumei (quase) tudo o que havia para arrumar, dei a volta à papelada, re-li revistas velhas, dormi, comi, arrumei mais coisas, fiz gelatinas, dormi, fiz puré de maçã, comi, vi televisão, dormi, passei roupa a ferro (nem toda), eu sei lá... Só não peguei nos pincéis nem no lápis, não percebo porquê, curioso que até ando com vontade.
A clausura não é para mim, qualquer dúvida que eu pudesse ter acerca disso desapareceu. Lembro-me de pensar nisto há uns tempos: vou para um convento e acabou-se, ao menos não tenho que pensar em nada nem preocupar-me com nada, lá a vida está traçada e pronto, é fácil. Mentira. Redondamente mentira. No sábado percebi isso quando senti aquela necessidade de sair de casa apesar das linhas pretas que tenho a mais a meio da cara. Foi tão bom que repeti a graça ontem e até fui para um sítio movimentado e tudo, às tantas perde-se a vergonha na cara, quase literalmente. Entre olhares e alguns "Oh... teve algum acidente?" as tardes passaram-se muito bem. A senhora simpática (?) da farmácia onde entrei para comprar uns pensos que tapassem isto disse-me que até parecia um piercing (#%&$"#!!!! Mas alguma vez eu fazia um serviço destes à minha cara por vontade própria?! Pior, por achar que ia ficar bem?! )
Hoje é segunda-feira e como todas as segundas-feiras, vim trabalhar, juro que tinha saudades. Já fui presenteada com um sem número de perguntas e exclamações, é sinal que hoje todos lavaram os olhos de manhã, lá vou respondendo enquanto tiver paciência, tenho mais paciência para uns do que para outros isso também é verdade. Digo para mim própria que é só hoje, amanhã já está tudo habituado e já me deixam em paz. É que há sempre os distraídos, aqueles que só perguntam se cortei o cabelo 1 mês depois de o ter feito, cabelo cortado, pontos na beiça (expressão carinhosa do médico), é tudo igual já se sabe.

quinta-feira, maio 13, 2010

Ontem foi assim

Quando chego ao quarto que me estava destinado e a senhora auxiliar me diz: "Tem aqui uma batinha, uma touca e uns sapatinhos; vai ter que vestir para ir para o bloco.", por dentro pensei: Hã??! Bom, na verdade, acho que não foi só por dentro, exclamei mesmo.
"Mas a cirurgia é no lábio... é só anestesia local...tem mesmo que ser?" : eu, na minha santa inocência, a mandar o barro à parede a ver se colava. Que era melhor, que não posso entrar no bloco com a roupa da rua et patati et patata. Pronto, está bem, lembra-te I., não discutas, estás a empatar, cada macaco no seu galho, tu não és médica nem enfermeira, não percebes nada disto, deixa trabalhar que sabe. Fiz tudo o que me mandaram. Até fiquei caladinha quando o enfermeiro me disse que me ia fazer "só uma maldadezita".
Posso dizer que já não morro estúpida (mas neste caso preferia), já andei de maca, já esperei pela minha vez deitada num corredor e já fui muitíssimo bem tratada por todos os funcionários numa clínica (fui mesmo, por todos). Ouvi as conversas todas entre os enfermeiros e o cirurgião, as piadinhas, tudo. No fim, até tive que ouvir o médico dizer que me ia fazer uma proposta indecente. Que agora ia ficar com "uma maminha" no lábio (juro que aqui começei a ferver por dentro) mas que depois (gosto tanto desta palavra) corrigíamos numa segunda intervenção. Bonito serviço, sim senhor, o que ele quer dizer é que pareço o Frankenstein, que vai tentar remediar a coisa e que assim talvez fique só pareçida com a Manuela Moura Guedes... E no final lançou a pérola: "Menina I., confie no seu médico. Já que não pode confiar no Sócrates, confie em mim, é mais seguro."
Agora, aqui estou eu. Em casa, com uns belos fios pretos no lábio inchadíssimo, com compressas, cubos de gelo e saquinhos de gel no congelador e com cerelac, iogurtes, sopa e fruta passada à discrição na cozinha. Acabei com um problema mas arranjei outro, com o espelho. Vai ser bonito, vai...

quarta-feira, maio 12, 2010

Quero a minha mãe? ...

Daqui a 3 horas vou ter um bisturi a avançar na minha direcção. Nunca fiz nenhuma cirurgia na vida, já me está a doer...

terça-feira, maio 11, 2010

Caro Dr. Marcelo,

A sua mãezinha esqueceu-se de lhe ensinar uma das regras mais importantes da boa educação, como eu não quero que lhe falte nada cá vai: é muito feio cortar a palavra às pessoas, falar por cima delas, elevar a voz para não deixar os outros falar. É uma falta de respeito. Percebe? Se quiser um diagrama eu posso-lhe fazer um. Assim ao estilo dos de Feynman, suficientemente elaborado para si?
Toda a gente sabe que o senhor gosta de falar, que até diz umas acertadas de vez em quando mas garanto-lhe que já ninguém tem paciência para esta sua mania. Porque é que acha que aquela jornalista (de que eu gostava muito por acaso), aquela dos cabelos encaracolados meios louros com uma voz muito doce cujo nome não recordo agora, deixou de fazer aquele programa consigo? Tenho a certeza que a senhora não aguentou ser constantemente interrompida e castrada durante as vossas (supostas) conversas... E olhe que ela tinha sempre coisas muito interessantes para dizer.
Tenho portanto um pedido a fazer-lhe: frequente umas aulas de boas maneiras e deixe os monólogos para as aulas de faculdade. Vai ver que toda a gente vai gostar mais de si, eu incluída. 

Com os melhores cumprimentos,
I.

segunda-feira, maio 10, 2010

Metade seca, metade bom

Nunca achei grande piada às férias nem ao tempo em-que-é-suposto-não-fazer-nada, especialmente (e sobretudo) se tinha que o fazer sozinha; a grande diferença na minha vida de há uns largos meses para cá é que isso deixou de ser motivo de ansiedade. Já consigo ser pro-activa, pegar no telefone sem ser para receber uma chamada, sair de casa sem ter nada de especial combinado e até já sou capaz de improvisar e de propor; eu, vejam só, quem diria... Hoje cheguei à brilhante conclusão que já não tenho medo das sextas-feiras, dos sábados ou dos domingos. É que isto de ter consultas logo de manhã e de me pedirem para fazer um ponto da situação tem muito que se lhe diga, obriga a recapitular a vidinha e a fazer um mini-balanço. O que pude ver é que já há mais peso no prato do bom do que no do mau, pelo menos eu acho que há, ou melhor, eu já vejo que há, porque há quem diga que sempre houve, e isso é claramente um avanço. Além disso, agora quem mexe os pesos sou eu por isso não há razão para a coisa não pender para o lado que eu quiser. Enfim, assim vai a vida. 
O fim de semana esse foi como foi: metade seca, metade óptimo. Metade obrigação familiar, metade prazer pessoal. 
A metade boa (qual Benfica qual quê, Frederico Gil dá-me a tua camisola! ;) ):


E a metade seca (a espera nos casamentos é uma coisa a que nunca me vou habituar):
entrecortada por 1/4 de bom mesmo assim (embora ele não queira nada comigo, o que é uma pena vistos os olhos que o moço tem. Se calhar gosta de mulheres mais novas...):

sexta-feira, maio 07, 2010

Ontem

Já não pertenço ali (ainda bem...), o cansaço que tenho em cima hoje é demonstrativo disso mesmo, mas soube bem relembrar os bons velhos tempos.

quinta-feira, maio 06, 2010

Estúpido do Murphy

Sou de hábitos, gosto de voltar aos lugares onde me sinto bem e o Sinans era o meu sítio preferido para almoçar perto de Goetheplatz. Fosse a pé directamente do mercado, de bicicleta, de metro ou no 58, apetecia-me sempre ir lá aos sábados quer houvesse sol, chuva ou neve; ali estava-se bem qualquer que fosse o tempo lá fora. Depois de escolher um lugar, normalmente ia sozinha, na esplanada o mais possível ao sol ou num dos bancos corridos lá dentro, preferencialmente à janela com uma grande almofada debaixo do rabo, vinha a empregada inquirir sobre a bebida. Essa é fácil... Água com gás não obrigada, Coca-cola é sempre a mesma coisa e não sou fã de weißbier nem de qualquer outra bier aliás, portanto tinha sempre a escolha facilitada.
"Eine Spezzi, bitte. Große!"
A comida? Ali é tudo bom, qualquer coisa ohne Gurke serve. Fico feliz com tão pouco que até chateia, à falta de melhor a comida é, ou era, sempre um recurso fácil. A cereja em cima do meu bolo era sempre uma fatia de Apfelstruddel (tão original que tu és, I. ...) e aquilo que me desiludia sempre era o café, melhor dizendo, o protótipo de café que aquela gente bebe. Enfim, não se pode ser perfeito...
Na hora de pagar repetia-se invariavelmente o ritual do remexer das moedas na bolsa dos trocos até que eu dissesse quanto iria pagar, ou seja, quanto iria deixar de gorjeta pela inata e generalizada falta de simpatia dos empregados daquela terra. Era uma coisa que me chateava imenso, mas porque é que tenho que 'premiar 'alguém por me servir mal só porque é costume? Sempre que isso acontecia lá arredondava a conta de má vontade, pagava e saía geralmente rumo ao 'meu' poiso também habitual dos belos dias.
Aqui encontram-se equivalentes a todas estas pequenas coisas que me fazem lembrar aqueles tempos, excepto a Spezzi. Dirão os que sabem o que aquilo é que posso tentar reproduzir a coisa em casa facilmente e eu respondo que poder, podia, mas não seria a mesma coisa (tão original de novo, I. ...) portanto aproveitei  recentemente aquilo que eu achei que era uma oportunidade: pedir a um amigo que andava por lá em formação que me trouxesse uma garrafa para matar saudades do sabor. É sabido que quando queremos uma coisa bem feita, fazemos nós mas eu pensei sinceramente que isto era uma tarefa fácil, até para uma pessoa tão inteligente como esse meu amigo. Mas não. E eu bem que rezei em pensamentos, "espero que não me apareça com Mezzo Mix, espero que ele não me apareça com Mezzo Mix, espero que ele não me apareça com Mezzo Mix..." É claro que o que podia correr mal, correu. O que é que ele me trouxe? Pois foi Mezzo Mix... Quando peço uma Coca-cola por acaso quero que me tragam uma Pepsi?

quarta-feira, maio 05, 2010

Era só para dizer isto.

Há um tipo no open-space onde trabalho com nome de monstro (se eu fosse contadora de histórias para crianças os meus monstros chamar-se-iam assim). Tenho esta ideia do nome dele porque havia uns desenhos animados no meu tempo em que um dos personagens se chamava assim. Era o ajudante ou o homme de chambre do Drácula acho eu (que por acaso era um pato).
O passatempo preferido desse tipo é tentar mostrar aos outros que trabalha muito, então ele faz assim: levanta-se do lugar dele, caminha apressado corredor abaixo, passa pelo lugar do chefe, diz-lhe uma baboseira qualquer do género "Vou ali fazer esta treta", vai não sei onde, passado um bocado volta pelo corredor acima de peito inchado e sorriso totó nos lábios, olha para as pessoas que estão sentadas às secretárias para ver se elas reparam que ele acabou de fazer uma coisa extremamente importante (mas provavelmente inútil) enquanto anseia que elas lhe retribuam um olhar de admiração. 
Passado 10 minutos volta a repetir o processo. 
De vez em quando pára na secretária de alguém, aproveita que está de pé para se sentir maior e lança uma posta de bacalhau ao ar (pescada seria demasiado comum para esta ave rara), fica satisfeito com ele próprio e vai-se embora enquanto a pessoa que teve que aturar aquilo fica a abanar a cabeça. 
Esta pessoa já foi meu chefe e já me fez chorar de raiva (na casa de banho, hein...). Hoje sinto alguma pena dele.

terça-feira, maio 04, 2010

As mães

Há dias em que me acho uma insensível mas até nem sou, sou só eu que sou como sou, quem gosta gosta quem não gosta come menos e depois não tenho que ser agradável para toda a gente. Enfim, estou a escrever esta parvoíce porque estava a pensar no dia da mãe.
Falo com a minha mãe todos os dias de há sensivelmente 6 anos para cá. Antes disso (e depois que saí de casa, claro) falava 2 vezes por semana? Sim, por aí. 
Liguei-lhe no domingo como lhe ligo todos os dias e ela sabe que basta dar-me um toque para o telemóvel para que eu lhe telefone. Bom, liguei-lhe e disse-lhe: Hoje é o teu dia... ao que ela me respondeu: O meu dia é todos os dias... Ora toma, nem eu diria melhor. Não há cá coisas entre nós, ela é como eu, ou melhor sou eu que sou como ela, não se fazem as coisas porque tem que ser ou porque é dia mas apenas porque sim, porque queremos. Senti-me tão ridícula por lhe ter dito aquilo que me esbofeteei mentalmente...
Houve um dia, que não foi nada belo, na primeira semana de Dezembro de há 6 anos, em que ela aparece na cozinha, estava o meu pai comigo, e nos diz: Tenho aqui uma coisa; aqui, toquem. Nós tocámos e ficámos com o coração nas mãos porque nestas coisas fica-se sempre assim acho eu. Já sabes o que tens que fazer, disse o meu pai. E começou a roda viva.
Desde esse dia e da ida ao médico no dia seguinte, evidentemente era isso que ela tinha que fazer, passou-se muita coisa: muitas consultas no IPO, muitas idas ao hospital de dia, uma operação, mais idas ao hospital de dia, uma longa estada no hotel do IPO, muitas choraminguices, algumas risadas, até que 1 ano e meio depois isso 'acabou'. E 5 anos depois, ou seja este ano, passámos a tal barreira, nunca podemos dizer que está tudo bem mas, pelo menos, está tudo melhor e é o que interessa.
Pode parecer um grande lugar comum mas a partir daquele dia, mesmo sem pensar nisso na altura, o dia da mãe, para mim, passou a ser todos os dias. Um dia vou ficar sem ela e vai ser uma grande treta mas até lá é minha todos os dias. E do meu irmão também, vá...

En vrac

Apetece-me dizer uma data de coisas que não têm nada a ver umas com as outras mas não me apetece gastar 3 segundos que sejam a pensar numa forma inteligente de as escrever por isso vou só despejar.

- Casamento (de família) este sábado. Iupi... que bom... Um dia inteiro de comida por todo o lado, pessoas que me dizem cada vez menos e perto de 600km pela frente. Tenho tanta vontade de ir como de levar uma sova.
- A "minha" casa foi avaliada hoje, aleluia. Vamos lá despachar isto que eu quero mudar-me.
- Ia eu escrever que tenho a cirurgia para dia 12 e acabo agora mesmo de receber uma chamada do médico. Isto é telepatia... Já agora ia dizer que estou cheia de medo daquela treta, estou para ver como é que vou ficar com o lábio! E é bom que a seguradora autorize a coisa porque não me apetece pagar uma pipa de massa do meu bolso para ganhar uma cicatriz em troca.
- Já me passou pela cabeça desmarcar a cirurgia e tudo. Sou uma maricas.
- Dói-me a garganta mas não me dói o pescoço, alguma coisa está mal.
- Domingo, vou ver a final ao Estoril Open. Federer é bom que lá chegues! Isto sim, tenho vontade de ver.
- Fui aumentada! Por acaso fui mesmo, desta vez não foi só de trabalho mas foi tão irrisório que não sei se ria se chore. Está-me a falhar um provérbio que se encaixe bem aqui mas não faz mal.
- Estou cheia de fome, já saiu toda a gente e eu também vou. Agora mesmo.

segunda-feira, maio 03, 2010

As surpresas II

Há dias em que os cantos dos meus lábios se esticam muito mais que o habitual e ficam ali como que paralisados num sorriso aberto. Não é muito fácil conseguir isso de mim mas não é de mim, é das pessoas. As únicas que o conseguem são, digamos, diferentes. 
A que me deixa envelopes sem remetente na caixa do correio (e pede desculpa ao vizinho do lado se por acaso se enganou), magnum's double caramelo no congelador e rosas penduradas no puxador da porta é-o. 

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