domingo, fevereiro 13, 2011

As escolhas

É todos os dias a mesma coisa, eu e os outros. Fazemos escolhas a toda a hora, umas extremamente ponderadas, algumas sem pensar, as que já fazem parte do dia a dia, aquelas que fazemos inconscientemente ou que outros fazem por nós. Escolhas são só escolhas, ou não? Querem dizer algo ou nada, têm um sentido, são produto ou consequência de qualquer coisa, têm a importância que lhes dermos ao fim e ao cabo.
A caminho das aulas de pintura das terças, 17:45, passava sempre por aquela pastelaria, tinha que comer alguma coisa entretanto, nunca chegava a casa antes das 23. A primeira vez olhei e escolhi, a segundo já só pedi e das restantes vezes era o empregado que escolhia por mim. Achava ele que já sabia o que  eu queria, olhava para mim, sorria, metia o lanche no saco de papel e estendia-mo. Demitiu-me da minha própria escolha, isto é um perigo. E se eu quisesse um croissant de chocolate? O mais provável mesmo seria levar o lanche para não fazer a desfeita ao senhor. Não quero desiludir ninguém mas não há problema nenhum em eu ficar um pouco frustrada. Depois? Depois, nunca mais lá voltava, escolheria outra pastelaria. Mas isso era naquela altura, agora seria diferente. Agora que já passou e que já vimos como foi, seria sempre diferente.
Hoje, por exemplo, escolheria tarte de mirtilo. Porquê? Bem, porque sim. Mirtilos, framboesas, morangos e groselha, parece que estou mesmo a ver, colhidos dos próprios arbustos, directamente para a boca e, para grande desespero da minha mãe, mãos limpas também directamente à t-shirt. Nódoa de mirtilo é nódoa para a vida. Vamos lá de novo; porque escolherias tarte de mirtilo? Porque sim. Não sei explicar... Nem tenho que.
Pode parecer o contrário mas isto tem muito pouco a ver com comida. Tem muito mais a ver com as escolhas que os outros fazem e que nos afectam, como no My blueberry nigths. Sobretudo aquelas em que não fomos chamados a opinar. Perguntamos sempre porquê mas pode não haver um porquê, pode ser só porque sim, podemos não ter sido nós, pode não ser culpa nossa nem de ninguém, foi só a escolha de alguém. Matar a cabeça a tentar entender o que nós não decidimos não vale a pena. Não se obriga ninguém a ir por onde não quer, não se obriga ninguém a manter o que já não quer, devíamos ser nós os primeiros a perceber isso e a deixar os porquês de lado. Isso, afinal, só desgasta e faz perder tempo demasiado precioso de uma vida que não volta a acontecer.
É aceitar, ficar em paz e andar. Como esperamos que os outros façam connosco.

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