quinta-feira, dezembro 31, 2009

Caro fulano que trata dos desejos para 2010:

Sabes que não sou de te pedir "coisas", também não peço ao Pai Natal, aliás, acredito nele tanto como em ti, mas acho que este ano vou abrir uma excepção. Não é por nada de especial, vá, talvez porque vou atingir uma idade redonda durante o ano que começa mais logo ou então porque me deu só para seguir o espírito de manada que a maioria das pessoas adopta nesta altura; bem, em suma (e porque não tenho mesmo que me justificar) porque me apeteceu. Não sei bem por onde começar portanto se isto não tiver muita lógica tem lá paciência, está bem?
Primeiro, para ser muitíssimo original e objectiva, quero que 2010 seja muito melhor que 2009. Esta é fácil, qualquer coisa é melhor que 2009.
Segundo, quero ter saúde. Esta também não é nada original mas é mesmo essencial, não é por nada que toda a gente a quer. Eu sei o que é não ter saúde, já vi o que isso fez a outras pessoas e acredita que é mesmo uma treta, sem esta bem me podes dar milhentas outras coisas que nada feito, portanto desenrasca-te. (Se não for pedir muito nesta eu incluía também parar com as drogas visto que tem tudo a ver).
Terceiro, quero tempo. Para tudo; para trabalhar, para ir arejar depois do trabalho, para mim, para ler, para viajar, para pintar, para rir, para os amigos que já existem e para os novos que hão-de vir, para a família e para tudo o resto. Esta também te devem pedir muito, se dás aos outros não vejo porque não me hás-de dar a mim também. Aumenta os dias ou as horas por exemplo (queres uma dica: mexe no Césio).
Quarto, quero dormir como deve ser (não é aqui que deves cortar para me dares mais tempo, ok?).
Quinto, ... ... ... ... assim de repente não estou a ver mais nada. Agora fui original, hein? Não te pedi o euromilhões, nem uma Birkin nem nada. Se tratares dos pontos anteriores eu cá trato do resto.
Se me lembrar de mais alguma coisa logo aqui volto, entretanto podes ir começando.
Obrigada,
I.
PS: Um óptimo 2010 à multidão que por aqui passar.

terça-feira, dezembro 29, 2009

Perguntas

Há dias em que me pergunto mesmo o que é que ando aqui a fazer. Aqui, neste mundo, mas porque é que eu existo, que raio de importância tenho eu no meio de toda esta gente que vive neste planeta, já nem falo dos outros (planetas, claro). Se eu desaparecesse isso faria diferença a quem, porque é que me levanto todos os dias de manhã para fazer sensivelmente sempre as mesmas coisas mesmo que eu ache que não, que sou original no que faço e que até ocupo o meu tempo de forma diferente, que sentido tem esta minha vidinha afinal? É para ter algum sentido at all? Chateiam-me os fulanos que tiram um sentido para a vida de cada livro que lêem ou de cada filme que vêem, será que não estou a ser uma chata para mim própria ao insinuar que tenho que ter um propósito para cá andar? Não posso só gostar ou não gostar de viver e pronto, tal qual como se gosta de um livro ou de um filme? (Filosofia barata a estas horas é sono, só pode.)
Deve ser porque nesta altura anda tudo preocupado em fazer balanços e eu não tenho grande coisa para balançar, é que até ao lavar dos cestos é vindima e ainda faltam 3 dias para o ano acabar. Isto até rimou, só pode querer dizer coisa boa. É remoto mas é possível, as probabilidades dizem que é, posso conhecer o homem da minha vida, não, melhor, a relação da minha vida (o Júlio Machado Vaz lá sabe), posso ganhar o Euromilhões, posso morrer, posso muita coisa, posso conseguir mais nestes 3 dias do que nos 362 que já passaram.
(Acabei de ver a Filomena Cautela a espetar um chocho ao João Manzarra. Linda, a cara dele.)
Isto amanhã muito provavelmente já passou, dá-me assim de vez em quando, (já) não é grave, acho eu. Vou dormir que o teu mal é sono, estás como uma bola, já dizia o meu avô.

sábado, dezembro 26, 2009

Cidade Inbicta

Há anos que não ia ao Porto mas soube-me tão bem lá voltar... O dia esteve lindo, frio e solarengo como se querem os dias de inverno, ou pelo menos como eu os quero porque é assim que gosto deles. Passeio não houve muito mas houve conversa à volta da mesa, sentadas no sofá e por fim em volta de um chá de tília, sem acúcar.






sexta-feira, dezembro 25, 2009

As pessoas

Acho que já falei delas há uns tempos. A grande maioria não me diz nada, se calhar (e é o mais provável) eu também não digo grande coisa à grande maioria das pessoas que me passam pela vida; temos pena, é assim mesmo, não conseguimos agradar a Gregos e a Troianos.
As pessoas dividem-se então entre as que interessam e as que não interessam. Não, não sou interesseira, de todo, mas é que mesmo nada, quem me conhece pode atestar mas isso também não interessa agora; adiante. As que interessam (para mim, claro) são aquelas que à primeiríssima impressão me suscitam um sentimento que nunca consegui explicar muito bem. Não sei se é simpatia, se é confiança, se é genuinidade mas se houvesse uma só palavra que exprimisse estas três "coisas" acho que seria essa. Se a pessoa me inspira isto tudo, maravilha; senão, a minha boca fecha-se a sete chaves e a minha expressão fica horrívelmente desagradável, pelo menos é o que dizem os que me rodeiam. Portanto, se me virem pela primeira vez e eu não vos dirigir a palavra ou apenas responder por monossílabos isso é muito mau sinal. Se sorrio e falo então está tudo bem. Sou tão básica quanto isto, ou tão estúpida quanto isso, depende da perspectiva.
Para aqueles de quem gosto, não sou aquela parvinha que está sempre a sorrir e que trata toda a gente por "inha" ou que diz precisamente o que as pessoas estão à espera de ouvir. Se estiver mal-disposta isso nota-se, se não concordar com alguém digo-o (agora com muito mais tacto que antes), uso muito (demais) a ironia e há quem não entenda (mais do que se pensa). Não sou má, não sou, mesmo. Acho que me pareço com um limão por fora, ou uma lima, uma lima parece sempre mais azeda que um limão; mas por dentro não tem nada a ver. Há pessoas que conseguem tirar a radiografia à lima e ver que por dentro há uma manga madura (assim de repente não estou a ver fruta mais doce que manga madura). Há pessoas que não se deixam enganar pela minha carapaça como me disse a S. esta semana.
"Tu a mim nunca me enganaste... Essa pessoa horrível que tu achas que projectas, eu nunca a vi e quando te via a "actuar" só me dava vontade de rir."
Que leu algures que "Por detrás de um cínico está quase sempre um grande sentimental". Não sei se isto é ser cínico, talvez. Vou procurar ao dicionário.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Boas Festas, agora a sério

O que quero para os outros é exactamente o que quero para mim:
Que passem umas boas Festas na companhia dos que mais gostam e, se assim o desejarem, que tenham muitas prendas :)
I.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

As festas

Hoje estou de abalo para cima para a romaria habitual a "casa" para as festas sejam elas quais forem. Estou eu e deve estar metade do país, ou metade de Lisboa que para alguns é a mesma coisa mas adiante.

Hoje estou de abalo para cima portanto, ontem, estive de mala, o que é sempre uma operação penosa. Acontece que desta vez simplifiquei; meia dúzia de trapos lá para dentro, um par de sapatos, as prendas, o sem fim de cabos completamente indispensáveis, dois livros, espaço para enfiar o nécessaire de manhã e já está! 10 minutos no máximo, a loucura da eficiência. Depressa e bem não há quem, é mentira, está provado.

Hoje estou de abalo para cima portanto, mais logo, vou pôr a minha paciência à prova, para chegar a Sete Rios, para entrar na segunda circular, para aguentar a A1 e aí por diante até chegar a casa. 5 horas no mínimo, a loucura da lentidão. Devagar se vai ao longe, diz que é verdade, vamos ver.

Sei lá que mais dizer... É bom ter onde ir passar as festas, isso é. Dá uma trabalheira, pois dá. Mas vale a pena, acho que vale. E não é pelas prendas porque, que eu saiba, não vou receber nenhuma, é o combinado lá em casa. Prendas só para as crianças.

Então um Feliz Natal, seja lá o que isso for para cada um de nós.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Os colegas que se tornam amigos

Simpatizei com ele assim que o conheci, uns meses depois de ter começado a trabalhar onde estou agora, garoto em corpo de homem, a boa disposição em pessoa, via-se que era genuíno. E era, raramente me engano nestas coisas. Chegava todos os dias com um sorriso, no inverno passava na minha mesa para "roubar" creme para as mãos, não digas a ninguém que ponho creme, eu só me ria.
Passado uns tempos foi embora e passado outros tempos fui eu também para o mesmo sítio. Baptizou-me, não vou dizer de que nome, por conviver praticamente só com homens, uma mulher engenheira é uma treta, ou não, sei lá; então quando queriam ter conversas de "homens" à minha frente eu transformava-me naquela personagem inventada por ele. Tinha uma certa piada, tenho que admitir.
Ele continuava na mesma, pois lá está que eu não me engano, mas eu fechei-me porque me fizeram fechar e porque eu deixei. Ele tentou puxar por mim, vamos nadar (o pior torcicolo da minha vida foi culpa dele, corpo na água quente e cabeça à neve), vamos andar de bicicleta, vamos jantar todos. Vamos, vamos, vamos. Não, não, não.
Até que acho que desistiu, ninguém aguenta muito tempo por muita boa vontade que tenha, soube que desistiu quando me perguntou com uma cara que não lhe conhecia: Mas ó miúda qual é o teu problema pá? Acorda prá vida!
Hoje voltei a vê-lo, dois anos depois. Começou a sorrir mal me viu ao fundo do corredor. Está na mesma, acho que até parece mais novo, está descasado, tem novo amor (desta é que é) e vai ter um bebé que quer que seja menina. As meninas gostam mais dos pais, digo-lhe eu. Faltavas tu para dizer essas coisas. Estás melhor, diz-me ele. Pois estou, qualquer dia vou-te visitar... É quando quiseres!
Olha que vou, olha que vou.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Óleos

No dia em que conseguir pintar maçãs, pêras, copos ou o que quer que seja assim, largo a engenharia, mudo-me para o sul de França e dedico-me à pesca ou à agricultura...
Escuso de ter medo, com o tempo que tenho para praticar, isso há-de ser nunca.

Assim, é como aqui:
Postcards from Provence


Hoje

Só mais 5 minutos.
Pedi este tempo a mim própria hoje de manhã quando o telemóvel tocou; já ninguém tem despertadores, hoje em dia julgo que só já há telemóveis, uma seca tremenda porque não convém atirá-los ao chão ou dar-lhes um valente soco com a mão para os calar, aquilo depois serve para outras coisas também. Aquele acto de deitar a mão para fora dos lençóis para abafar o pi-pi-pi-pi insistente que vem do lado, acho que só existe mesmo nos filmes. De qualquer maneira eu nunca tive nenhum, o simples barulho do tic-tac impedir-me-ia de dormir, os digitais são feios (é uma razão tão válida como outra qualquer) e se estiver de bem com a vida acordo naturalmente à hora que tem que ser.
Concedi-me então 5 minutos. Isto depois de ter dormido uma noite inteira sem interrupção com o meu livro como companheiro do lado, este ao menos não ressona, não encosta os pés gelados aos meus e não me rouba o edredon. Ninguém precisa de mais tempo depois de uma noite inteira de olhos fechados mas esses miseráveis 5 minutos transformaram-se em aproximadamente 90, pelo menos era isso que dizia o bendito telemóvel a vez seguinte em que olhei para ele.
Sou uma mulher nova. Já durmo como toda a gente, sem drogas, sem tampões de silicone para os ouvidos, sem chá noite tranquila, sem essência de alfazema, sem venda nos olhos, sem sei lá que mais coisas existem para ajudar as pessoas a dormir. Já sei (de novo) o que é querer preguiçar só porque sim durante a manhã e não porque não há nada de interessante neste mundo que me faça querer levantar da cama. Não que tenha algo interessante na minha vida que me faça levantar da cama mas pelo menos não é nisso que penso. E isso já é uma grande coisa.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Conversas

Vai uma pessoa, eu, a pensar na vida, no comboio, a caminho do trabalho, vinda de uma sessão de esfrega matinal (a última antes do ano que vem), não estou a olhar para nada em especial mas sei que a próxima paragem é Benfica porque a senhora do altifalante acabou de dizer.

Olhe como ela cai agora. (é a senhora que vai ao meu lado no banco)
Desculpe?!
A chuva.
Ah, sim, faz falta...
Se faz! Lá para a minha terra qualquer dia não corre água nos chafarizes. Mas isto lá pra cima deve ser de neve, ontem falaram em neve aqui para a serra de Sintra, não sei.
Pois... (a palavra mais versátil da língua portuguesa é esta)
Gosto tanto de neve, quando a gente éramos (ai...) novos, lá pra cima, divertíamos-nos muito. Sabe que nem faz frio quando neva?
Sei... (oh se sei...)
Era mesmo bonito, ver aquilo nas árvores. Agora já ninguém planta árvores, os Americanos até disso deram cabo, os velhos morreram e os novos não querem saber. E depois falta o oxigénio, a gripe A é isso, falta de oxigénio... Ai menina, como isto anda.
Pois... (É quase a minha estação, pego na mala e preparo-me para me levantar)
Bom Natal menina!
Boas festas também para si...

Acho que foi a primeira vez que alguém meteu conversa comigo nos transportes públicos aqui. Há uma primeira vez para tudo...

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Auto-confiança e optimismo é...

... andar há 3, quase 4, anos a subir as escadas do refeitório aqui do trabalho e pensar todas as vezes: É desta que me vou espalhar e dar um espectáculo de graça ao pessoal...

Sonhei?!

Ou a minha cama fartou-se de abanar e sou só eu que cá estou?
Acho que sobrevivi ao meu primeiro tremor de terra... Foi só um aviso? Vem lá alguma onda? Fujo pró castelo?

PS: Não sonhei, não... 6.0...

quarta-feira, dezembro 16, 2009

OST

A banda sonora perfeita para hoje é aquela música da Lily Allen em repeat, como é que é... Fuck you, é isso.
Very, very much.

As noites

22:30, por aí, e estou a cair. Já não ouço a televisão e já nem leio nada de jeito, acho que amanhã vou ter que voltar atrás umas quantas páginas. Vou prá cama, que se lixe, tenho andado a dormir tão bem que hoje de certeza que vai ser igual; caraças, não devia dizer isto tantas vezes ou vai-se virar contra mim. Será que só por estar a pensar isto já estou a condicionar a minha noite? Eu conheço-me, é bem provável.
Abro a cama. Tiro as calças do pijama (não consigo dormir com calças, é mais forte que eu, sempre fui assim, detesto sentir o tecido a enrolar-se pelas pernas e depois aquilo também me faz muito calor) e entro na cama. Não digo asneira mas penso-a, os lençóis estão frios como tudo, tapo-me e fico ali quietinha quase sem respirar a ver se esta sensação passa.
Passou. Viro-me para o meu lado, só pra este lado é que consigo dormir, nem quero arriscar o outro dá muito trabalho e depois se não durmo é uma treta; viro-me então e fico a ouvir a ver se há algum barulho. Não há - incrível - pelo menos nenhum irritante.
Já não me lembro de mais nada.
Acordo.
Deixa ver que horas são, não há barulho que estranho, são 2h e pouco. Agora digo mesmo asneira; eu sabia, o poder da sugestão é este - dois pares de estalos é o que tu mereces - agora trata mas é de dormir, sim? A técnica é o auto-abraço, mão direita no ombro esquerdo a fazer um V no peito, braço esquerdo em torno da cintura, mão na anca direita; deitada sobre a esquerda, o meu lado.
Funcionou, só voltei a ver as horas às 7...

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Confissão

Por vezes tenho a sensação que tenho duas caras; dois blogues e duas caras; um (bem, dois) sítio(s) onde sou eu e uma vida real à vista de todos. Não estou a ser dramática, é só isto que eu sinto e tenho para mim que muita gente por aí sente o mesmo, nem que seja lá no fundinho de si. Li algures por aí; pareceu-me que era em jeito de confissão, talvez me engane, talvez não e também não interessa para o caso; um desabafo acerca de consultas de psicoterapia e revi-me; muito. E pensei, bolas, que coragem dizer isto aqui; eu digo-o, a alguns amigos, a alguns familiares, no meu outro espaço que é fechado, mas não ao povo todo. Porquê? Pois, não sei.

Há 1 ano e 4 meses que faço psicoterapia.

Porque achei que era a última carta que tinha a jogar, porque me sentia tão mal que achei não ia a lado nenhum sozinha, porque ou era isto ou me afundava ainda mais e sobretudo porque tive coragem para o fazer. Não foi fácil tomar esta decisão, tive que pôr de parte o meu orgulho; eu, a I. forte que toda a gente conhecia a pedir ajuda, a não dar conta do recado, completamente atolada numa situação que antes afirmava não compreender nem conceber. Senti-me uma fraca mas estava muito enganada, foi a melhor coisa que fiz.
Tive a enorme sorte de encontrar uma psicóloga em quem confiei imediatamente, com quem estabeleci uma relação empática enorme e com que me sinto perfeitamente à vontade. O facto de me ter sido recomendada por uma grande amiga minha, também psicóloga, ajudou muito acho eu. A paciência que ela tem para mim, a maneira como me ouve e me organiza o pensamento, como me guia no entendimento de tanta coisa, como fez com que mudasse tanto, não sei como lhe agradecer. Se não fosse ela, não estava aqui hoje nem seria quem sou hoje e não, não estou a ser dramática; devo-o a ela mas também muito a mim mesma, que nestas coisas ninguém faz milagres por nós.
Lembro-me de uma imagem que ela me deu nas primeiras consultas. Aquilo que nos faz sofrer assemelha-se a um iceberg; a ponta, o problema que se manifestou, é apenas o que está à vista. A calote que está escondida debaixo de água é que é o problema principal porque é a fonte mas para acabar com ela temos que começar por cima, para ver se encontramos algum alívio mais imediato que nos dê coragem para o resto. Ela tem toda a razão. Acho que já parti a ponta, agora estou a chegar à base e isso leva o seu tempo. Custa, dá muito que pensar, mas sinto que me faz bem.

Bem, é isto. Se servir de incentivo ou de exemplo a alguém, óptimo.

I.

Hoje

Hoje, é um daqueles dias perfeitos. Dormi lindamente, acordei de maneira espontânea, o céu está azul, está sol e frio.

Apetece pegar na bicicleta, calçar as luvas, pôr o gorro e o cachecol e pedalar toda a manhã; mas aqui é difícil, ou então sou eu que acho tudo difícil. Apetece calçar as botas e ir caminhar para um parque qualquer, apanhar folhas, castanhas e caçar girinos com um coador de chá como quando saíamos em passeio com a escola quando era garota; trazia as ditas castanhas toda orgulhosa para casa mas afinal, dizia a minha mãe, não eram castanhas, que desilusão, pelo menos podiam-me ter dito que eram. Os girinos ficavam na escola, para os vermos crescer, para acreditarmos que aquilo se transformava mesmo em sapo, a sorte é que no meu tempo já não se dissecavam; blheuc, que nojo... Bom, pelo menos também não lhes dávamos beijos, o que seria ainda mais nojento, é mais fácil acreditar que aquilo é só um sapo e que nunca há-de ser um príncipe, até para as crianças. As folhas, essas, eram fixadas em cartazes que ficavam nas paredes; é engraçado como nunca perdi essa mania, de apanhar folhas secas do chão em tudo quanto é jardim, colá-las em cadernos e escrever de onde vieram, pedras também apanho e peço que mas tragam de viagens, tenho uma do Japão por exemplo, acho engraçado; pronto, se calhar é um bocado parvo mas não faz mal, dou mais valor a isto do que a uma recordação inútil. Não sei se a garotada ainda faz destas coisas hoje em dia, talvez não, também não foi assim há tanto tempo, pode ser que ainda façam.

Hoje não calçei as botas, nem luvas nem gorro, só enrolei o cachecol ao pescoço e fiz metade do meu caminho a pé. Não pela terra mas pela calçada, que na cidade deve ser mais ou menos equivalente. Não apanhei folhas, pedras, castanhas nem girinos; apanhei o autocarro. Não fui para o parque, vim para o trabalho.

Afinal, hoje é só um daqueles dias quase perfeitos.

I.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Conversas

Os meus amigos-barra-colegas andam, ultimamente, com uma psicose daquelas graves mas mesmo graves. Tipos interessantes, bem parecidos, com quem se consegue conversar lindamente e sobre as mais variadas coisas, com trabalhos estimulantes; agora acham que importante é dinheiro e carro como-deve-ser ou mulheres nada. À hora de almoço ou nas saídas à noite isto é tema recorrente.
Um deles é claramente um player, diz a mesma coisa, mas não em jeito de queixume pois sabe bem ao que anda e com quem se mete mas os outros são solteiros e bons rapazes e eu só pergunto com que raio de tipas é que eles se dão e que raio de gajas é que eles procuram.
Depende de que mulheres querem, digo eu. Ah, que não, que um homem nunca é suficientemente rico nem uma mulher suficientemente magra (esta faz-me lembrar o célebre chavão: ah, os homens são todos iguais...). Este segundo argumento desmonto-o muito facilmente, é só esfregar-lhes na cara uma fotografia de uma fulana anoréctica e está feito. E agora como é que se convence este bando de gajos que, num homem, não é o dinheiro nem tão pouco o carro que se tem ou se deixa de ter que interessa? Que as gajas, digo eu, se estão bem a marimbar se têm um bmw 320d, um clio, uma bicicleta ou se andam de metro; eu própria ando a pé e não acho que seja menos mulher por isso, gasto mais em solas de sapatos que me lixo. Que as gajas, digo eu, se conseguem perfeitamente sustentar sozinhas com o que ganham, que não é propriamente isso que lhes faz falta? Mas é lógico que depende da miúda.
Digo eu, claro.
E o que é que me respondem? Ah, mas tu não contas, estás demasiado habituada a dar-te com homens.
...

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Os bichos IV

Aqui está ela, já se deixa fazer.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Uma mulher...

... não chora. Ou é um homem?
Hoje não sou mulher então. Devo ser um homem com os olhos pretos e a cara vermelha.

I.

A poesia

A poesia é o meu pior pesadelo ainda hoje. Quem raio se lembra de obrigar crianças a escrever poemas? Aquelas horas semanais eram um suplício, ainda pior do que aquelas em que recitávamos a tabuada, nunca aprendi a do 7 e do 8, não sei porquê, estas duas tabelas sempre foram guardadas apenas temporariamente na parte mais volátil da minha memória. Se calhar é porque não interessam, se interessassem sabê-las-ia ainda hoje, mas se isto é verdade então a maior parte das coisas que, supostamente, aprendi não interessam para nada e acho que isso não pode ser. Não me lembro das equações de Maxwell e sem elas o que é que nós seríamos... Bem, adiante (quem quiser saber quais são, a Renova tem um papel higiénico em que estão escarrapachadas, devem ter achado que esta é uma boa maneira de passar tempo na casa de banho, recordar o electromagnetismo).
A poesia, pois. Não tenho veia criativa, acho que sou seca, demasiado literal, não sei fazer isso e quanto mais me obrigam a fazer uma coisa que não gosto, pior (sobretudo se eu estiver convencida que não consigo). É a pressão das linhas que tenho que encher e palavras que têm que rimar (têm, têm, no meu pesadelo têm), e tem que ser escrito em verso e tem uma forma específica, é um sacrilégio se assim não fôr. Porque é que ensinam estas coisas às crianças se depois elas vêm a descobrir que é tudo mentira, ou melhor, que não tem que ser assim? Que pode não rimar, que pode ser tudo seguido e que se podem fazer desenhos com as palavras e tudo? Que pode não ser obrigação nenhuma?
E porque é que temos que decorar e recitar estas coisas como se fôssemos gramofones? Era assim que me sentia quando era a minha vez de recitar, a professora deixava-nos debitar as receitas virados para o quadro se o medo de olhar para a turma fosse demasiado grande. Gramofones autênticos... Ronsard com 8 anos, lembra a quem? A mim traumatizou-me.

I.

PS: Estive a arrumar papelada no sótão este fim de semana, encontrei as "coisas" da primária...

terça-feira, dezembro 08, 2009

As descrições

Naquele dia estava a correr tudo ao contrário do que tinha pensado, o que é que havia ainda de vir mais... Tinha acordado tarde, pequeno almoço na cama, dormir mais, almoço em vez de lanche, banho, coragem para sair de casa, rua cinzenta, autocarro perdido, grandes voltas para chegar onde era suposto ir. A pé do Rato ao Chiado com sapatos totalmente inadequados para a caminhada, lá fui em direcção à minha vidinha, fazer o que era suposto fazer e fico para jantar com uma amiga em vez de voltar para casa.
Pois, agora já não vale a pena ir a casa, vou mas é esperar por ela, outra amiga com quem tinha combinado sair, e o que é que há de melhor para matar tempo do que ler? Para ler preciso de um livro, onde é que há livros, na Fnac, é já ali em baixo, nem é tarde nem é cedo mas está quase a fechar, tenho que me despachar. É nestes (raros) momentos (graças a deus) que me apetecia que as livrarias fossem máquinas distribuidoras em vez de prateleiras de supermercado. Quero um livro mas estou sem paciência, ou tempo, para escolher; era bem mais fácil meter a moeda e sair-me um qualquer; sim podia comprar uma revista da treta mas um livro sempre fica melhor depois na estante lá de casa. Enfim; ando um pouco em direcção à Literatura traduzida e fico a olhar, tanta escolha, pensa I, pensa, o que é que te aconselharam ultimamente? Aquele escritor japonês, como é que se chama? Como é que era o nome do livro, Kafka à Beira Mar não era, bolas eu já li Kafka e ia dando em doida, eu sei que não tem nada a ver mas a simples menção deste nome diz-me que, a ser o Murakami o autor de hoje, vai ter que ser outro livro.
Sputnik, meu amor. Faz-me lembrar Hiroshima, mon amour; diria que é um bom prenúncio, é já este, pego nele, pago, saio e subo a rua a pensar que só há um sítio onde posso sentar-me a ler a esta hora, peço um chá e tudo, a espera não vai custar nada a passar. Grande burburinho lá dentro, janta-se à meia-luz pela sala toda mas há uma mesa vaga lá ao fundo só para duas pessoas, mesmo à janela. É isso mesmo, sento-me, peço o meu chá de hortelã e abro o livro.
"Sumire era uma incurável romântica, com tanto de obstinada como de cínica. Era dar-lhe corda e desatava a falar pelos cotovelos, mas, caso estivesse na presença de alguém que não lhe merecesse simpatia - que é como quem diz, a maioria das pessoas -, mal abria a boca."
(Ora bolas, nunca ninguém me descreveu tão bem...)
Não sei em quanto voou uma hora e meia.

I.

PS: Agora que penso, obstinada sim, cínica não.

sábado, dezembro 05, 2009

Vá, são estas, digam que são feias...

Comprei-as para o caso de precisar delas em Veneza e precisei mesmo. Achei que era um desperdício de dinheiro não as voltar a usar e, verdade seja dita, quando chove dão um jeitão :)
(meu deus, que post tão menina...)

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Estou estupefacta.
As minhas galochas acabam de ser cobiçadas por um meu colega de trabalho :) Perguntou-me timidamente onde as tinha comprado porque diz que queria oferecer umas à namorada. Há pessoal com bom gosto por estes lados...

I.

Os sonhos II

Continuo a dizer, o Sr. Freud e eu teríamos sido grandes amigos, ou não porque talvez só eu sobrevalorize as parvoíces com que sonho. O engraçado é que na maior parte das vezes até consigo relacionar os filmes que vejo durante a noite com o meu dia a dia mas desta vez nem por isso.
Então a história, esta noite, passou-se no meu local de trabalho, um dos meus palcos preferidos ultimamente devo dizer. Andava eu a cumprir algumas das minhas tarefas habituais, de um lado para o outro, sobre escadote, desce escadote, liga cabo, tira cabo, desliga energia, liga energia, faz as maiores barbaridades ao sistema, espera que ele recupere, pardais ao cesto, etc e tal, quando... duas componentes começam a fumegar. Primeiro o fumo é branco, depois torna-se preto, faísca e finalmente aquilo começa a arder. O que faz a menina I. perante tal cenário, pois fica especada à frente daquilo como se estivesse a apreciar o fogo de artifício (que não aprecio de todo...) do 14 de Julho ao pé do rio. Aquilo alastra ao resto da coisa, o alarme não toca e ninguém se mexe. Saio para o andar de baixo, fecho a porta corta-fogo e pronto, ficaram todos lá dentro.
Depois disto até já gosto de sonhar que ando descalça na rua ou que ando às voltas num barco virado ao contrário.
Internem-me que estou a precisar...

I.

PS: Não sei se foi por ter ficado traumatizada com o sonho mas troquei de mala e deixei as chaves do meu bloco em casa... Voltei a casa buscá-las? Não; pedi ao meu chefe que me arrombasse a coisa para poder tirar de lá o portátil. E não é que ele abriu aquilo em menos de 2 minutos??

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Banalidades

Abri isto porque me apetecia escrever mas estou com a página em stand-by há um bom bocado de tempo. Se calhar não me apetece assim tanto ou então não tenho nada para dizer, ainda não decidi.
Banal seria falar do feriado, de como demorei tempos infinitos a chegar à Baixa por causa da comitiva que se passeava por Belém, de como ia morrendo abafada no Chiado de tanta gente que lá andava (bem feita, para que te foste lá meter?), de como esta época me enfada pelas atitudes que vou vendo.
Não fui comprar prendas de Natal, fui comprar uma prenda de aniversário; curioso, quem me conhece sabe que raramente dou prendas. Nem no Natal, nem nos anos, nem na Páscoa, nem porque te portaste bem, nem porque é dia da Mãe, do Pai, da criança ou da árvore. Só dou porque quero, porque me faz sentido, porque gosto da pessoa, não porque está na altura e parece mal não dar. Aquilo que grande parte das pessoas sente nesta altura, Ai que não sei o que oferecer à prima Clementina e ao tio do Manel; eu detesto sentir. Soa-me a obrigação, a imposição, é Natal logo têm que se oferecer presentes mesmo que não se saiba o quê ou que a pessoa nem nos diga nada.
Banal seria falar de como voltei a olhar para todas as pessoas que se passeavam por ali e de como voltei a sentir exactamente a mesma coisa que há uns tempos atrás.
Banal seria não falar de quê?

segunda-feira, novembro 30, 2009

Bode expiatório?

Tenho um fascínio e um interesse estranho por um período da História: a 2ª guerra mundial. Livros, documentários, filmes, tudo o que vem à rede é peixe em relação a esta matéria, acho que isto começou na escola há muitos anos atrás por causa de um livro de leitura obrigatória na 4ª classe, "Um saco de berlindes" do Joseph Joffo. Isso e por ouvir muitas histórias sobre o Holocausto da boca dos membros de uma família judia amigos dos meus pais, muito provavelmente não tenho uma visão muito parcial da coisa. Extremamente cultos, e simpáticos gostava imenso deles e fiquei para morrer quando há 2 anos parti a caneca que a M. me deu, tinha Shalom escrito em azul, tinha-ma trazido de Israel tinha eu 10 anos, por aí. Tinha um medo terrível das guerras quando era mais nova, tinha aquela ideia que as guerras eram periódicas porque havia a 1ª, a 2ª, a 3ª seria para quando? Era a do Irão/Iraque, depois foi a do Golfo, lembro-me muito bem de pensar que qualquer dia seria a nossa vez.
Semanas antes de me vir embora da Alemanha lá tive coragem para ir visitar um antigo campo de concentração, fui a Dachau por ser o que ficava mais perto. Era Outono avançado, a caminhar com força para o Inverno, estava um frio daqueles que corta mas sol ou seja um óptimo dia para passear. Supostamente, Dachau foi um campo dito 'soft' mas aquele ambiente é pesado, pesadíssimo. A maior parte dos edifícios foi arrasado, só sobram as linhas dos alicerces no chão a marcar os sítios, há árvores bastante altas a marcar uma avenida; anda-se, anda-se, anda-se e anda-se até se chegar ao fundo onde está o edifício/camarata que se pode visitar. Mais adiante os fornos crematórios, as so-called salas de desinfecção, tudo pegado mas é mera coincidência dizem as placas. As linhas de comboio que chegam até lá também são coincidência, dizem as placas. Ali morreu muito pouca gente, dizem as placas. Ver tudo, e ler tudo, com olhos de ler demora bastante, foi uma tarde inteira ali passada. Mete uma certa impressão. E ali nas redondezas o assunto é completamente tabu.
Mete mesmo impressão saber que estas coisas aconteceram, porque aconteceram, mas notícias como esta deixam-me dividida. Bode expiatório, agora?

A nacionalidade do elogio

O cabeleireiro (este não conta, foi pago): "Ficou fantástica!"

Uma amiga, no sábado à noite (ler com sotaque inglês): "Uau, essa cor fica-te bem!"

Um amigo gay (ler com sotaque italiano): "Bem normalmente estás gira, com essa cor ficaste super-gira..."

Um amigo que eu acho interessante, no sábado à noite (português da silva): "Estás diferente... É o cabelo, não é? Porque é que pintaste dessa cor??"

Um colega esta manhã (ler com sotaque brasileiro): "Há qualquer coisa diferente em você... É o cabelo! Lhe fica muito bem mesmo."


Porque é que pintaste dessa cor... lindo... mais valia ter ficado calado.


domingo, novembro 29, 2009

Ontem

Doem-me os pés como tudo e as despedidas nunca mais acabam. É sempre assim, passamos a noite na palhaçada e na hora de ir embora, tudo muito bem bebido, é que se lembram de ter conversas profundas; o porquê de ter calçado aqueles sapatos ou de ter pintado o cabelo tão escuro; vá-se lá perceber estes amigos psicólogos. Bastou sentar-me para que me viessem fazer companhia, lá tive que me levantar ou nunca mais ia para casa.
K., é agora ou nunca, vamos?
Vamos. Beijos pra todos...

É sempre a descer em direcção ao táxi mas ainda tenho que levantar dinheiro. E está a começar a pingar, é melhor despacharmos-nos.
Já chove miudinho; que sina a minha. Um monte de pessoal abrigado a tapar a ATM; peço licença, responde-me um coro de Sim's e um Não em desafio. Faço o olhar mais ameaçador que tenho e chego-me à frente.

Vou ver o teu código!
Força, até o marco devagarinho.
Por acaso estou mais interessado no nome e número de telefone.
(olha-me este caramelo...) Ai é?
É.

Agora já não é chuva, é o dilúvio total a abater-se sobre nós. O dinheiro está quase a sair e a K. já mandou parar os táxis.

Então vá que só digo uma vez: 9xxx0x0xx, I.
Hey! Não tive tempo de apontar...

sexta-feira, novembro 27, 2009

Eu

Eu já ...

Eu nunca ...

Eu sei ...

Eu quero ...

Eu sonho ...

Estou praqui a pensar nesta treta ao mesmo tempo que tento acabar a mer*a da apresentação que devia ter entregue ontem e que ouço Katie Melua em loop desde esta manhã. Resultado não faço nem uma nem outra.
Mas já sei as letras quase todas de cor e salteado.

I.

Ontem.

Dois jantares para festejar qualquer coisa, mas só posso ir a um. Ao que perguntou primeiro... Óbvio. Encontramo-nos todos depois, ok? Ok. Saio do Príncipe maldisposta de tanto rir; esta malta nunca mais se decide a começar a andar. Vamos pra onde mesmo? Ninguém sabe, é prá frente, logo se vê, também é já ali...

Depois.
É a minha sina: ir pró bairro e chover, bolas...
Estou maldisposta, não devia beber nada. Acho que foi o leite creme, que nem devia ter comido, que me caíu mal, não sei quem disse que estava demasiado doce, mas há sempre lugar pra um mojito porque a conversa está tão animada que não saímos daqui tão cedo, não.
E não...

Já é tarde, amanhã trabalha-se, a deixa perfeita para começar a dispersar, pois então. Uns pra cima, outros pra baixo; onde é que tens o carro?
Ah, ali na descida, pára tudo para a despedida (caramba nem parece que nos vamos ver daqui a umas horas). Ainda se discute o fascínio de todos pela X. e o encantamento de todas pelo Y, é que ninguém percebe mas que é um facto, lá isso é.

Ainda depois.
Então mas onde é que tens o carro ou ficamos aqui ainda mais uma hora?! Ali, e tu?
!&%#$!!, afinal vamos todos pró mesmo lado...

quinta-feira, novembro 26, 2009

Se calhar complicamos e é só isto.


L'amour ne vaudra jamais mieux que le court temps que l'on passera à le faire.

Tenho fé

... que a selecção de 190 músicas de salsa, merengue e mambo que estou a ouvir me vão ajudar a concentrar-me na treta da apresentação que tenho que ter pronta hoje.
Se ao meio-dia não tiver mais de metade dos slides prontos viro-me pró tango, 3 cd's dos Gotan Project de enfiada, e se no fim do dia a coisa estiver mesmo preta largo isto e vou mas é dançar.

I.

quarta-feira, novembro 25, 2009

As sensações

A redescoberta de sensações é uma coisa fantástica, quem um dia deixou de as reconhecer de certeza que assina por baixo.
Até as perder nunca lhes tinha dado grande importância, lá está, há coisas que só passamos a valorizar quando já não as temos. A fome, o sono, o frio, o respirar fundo, o cansaço, a dor ou a ausência dela; são básicos da vida de todos os dias aos quais respondemos como que automaticamente, sabemos quando os sentimos e reagimos ou, por uma razão qualquer, perdemos essa capacidade e a nossa existência passa a ser um pequeno caos. A decadência total.

Não se tem fome porque se confunde com náusea. Náusea essa causada pela fome, mas quem nunca teve fome não sabe o que é. Então passa fome. Sem saber. Começar a comer é uma violência, uma obrigação danada. E eis que um dia em que já é quase uma da tarde, não se olha para as horas, e sentimos-nos esquisitas. Mas o que é isto? É o corpo a pedir comida, está-se a habituar.

Passam-se tantas noites em branco que deixa de se reconhecer aquele momento em que os olhos se querem fechar. O desespero é tanto que quem manda no acto de dormir não é o sono mas um comprimido que desliga o interruptor bruscamente, sem darmos conta de como isso foi acontecer e que só sabemos que aconteceu de facto porque acordámos de manhã. Já há muito tempo, isto. Ontem à noite apercebi-me que estava naquele limbo entre os meus estados acordada e adormecida, naturalmente. Sentia o peso do edredon de inverno que finalmente fui buscar em cima de mim, sentia que a televisão fazia barulho e que havia luz a mais, se estivesse a ler era neste momento que o livro me caía em cima da cara, por isso nunca vou aderir aos kindle e companhia, deve magoar. Estava simplesmente cheia de sono. Aleluia.

Quando já tudo dói há tanto tempo deixa de se dar importância e passa a ser essa a norma. Continuamos a caminhar, a viver e até a rir, nem que seja de favor. Nem as queimaduras doem assim tanto, nem os cortes acidentais, nem os tombos, nem as estaladas, nem a água fria a cair há 20 minutos nas costas dói. E depois, passam-se semanas ou mesmo meses sem que vá ao chão, sem que me puxem o tapete, sem que me corte no papel, sem que precise de refrescar as ideias no duche ou dando um murro na parede e vou com a mão à placa. Se fosse de indução nem a sentia, mas não é, e queima. E dói.

E no dia em que, distraidamente, no elevador, respiramos tão fundo e sentimos que é a primeira vez? Se calhar em anos?
É um belo dia. Digo eu.

I.

Eu devo ir, nem que seja para ver.

Adoro a "minha" escola. Despretensiosa, activa, implicada.

Organizado em parceria com o Ar.Co, irá decorrer no próximo Sábado, às 17h, no Chiado Plaza, o leilão "Simbiontes" que visa angariar fundos para a investigação em cancro em Portugal.
Serão leiloadas 13 telas e 27 ilustrações realizadas por crianças no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa no âmbito de oficinas de arte e ciência organizadas pela Associação Viver a Ciência (VAC) em parceria com o Ar.Co.
Estas oficinas são fruto do projecto Simbiontes que visa a criação de materiais originais para angariação de fundos para investigação cientifica portuguesa.

Informações:
Data: Sábado, 28 de Novembro de 2009, às 17h
Chiado Plaza: Rua Garret/Travessa do Carmo, Chiado, Loja 1
A apresentação do leilão estará a cargo de Paula Lobo Antunes

Confirmação de presença até 26 de Novembro:
217937134
info@viveraciencia.org
Para mais informações:
www.viveraciencia.org

terça-feira, novembro 24, 2009

Ontem

Está rodeado de livros por todo o lado, o escaparate mais próximo dá-lhe pela cabeça. Não está minimamente interessado no que há à volta dele. Já repetiu a mesma pergunta uma boa dezena de vezes e obtém sempre a mesma resposta: nenhuma. Está a testá-los, só pode, é o que os miúdos mais gostam de fazer. Até eu já tenho vontade de lhe responder só para que se cale e me deixe escolher um livro em paz, isso ou abanar os pais com força para que acordem e lhe dêm 2 segundos de atenção.

Mana... quando saírmos daqui vamos comprar comida? Manaaa... quando saírmos daqui vamos comprar comida?
Silêncio.
Paaaai, quando saírmos daqui vamos comprar comida? Ó pai, quando saírmos daqui vamos comprar comida?
Vira-se para a mãe.
Mãe, quando saírmos daqui vamos comprar comida? Vamos? Mãe, quando saírmos daqui vamos comprar comida? Ó mãeeee, porque é que não vamos embora daqui comprar comida?

Deve ter quê, 5 anos? Bolas, deve ser duro ter-se 5 anos e sentirmo-nos ignorados se até eu com a idade que tenho não gosto disso.
Acabo por ir olhar para outras prateleiras porque esta música já se está a tornar repetitiva. Não melhora muito. Quando são crianças a fazer estas figuras acabamos sempre por compreender, quando vem dos adultos já custa mais.
Assim estava a Fnac do Colombo ontem à noite.
Uma feira.
Da ladra.
Literalmente.

Saí de lá de mãos vazias.

I.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Os bichos III

Já temos nova inquilina, a Lira.
Foi adoptada, tem um ano mais coisa menos coisa e, para já, é muito desconfiada. Branca de pontas castanhas, tem foçinho comprido e orelhas de abano, é engraçada. Diz que é cadelinha perita em caça ao javali, está com pouca sorte a rapariga, ali pelos meus lados porquinhos com presas há poucos mas o meu irmão aproveitou logo a coisa para lhe dar um cognome, a facochera...
A antecessora foi educada desde bebé, esta vai ter que ser cativada, tipo raposa ou rosa. Não quer sair da casota quando nos vê cá fora e fica a fazer barulho a ver se ameaça alguém, em vão minha querida que somos gente de paciência. Sentei-me um bom bocado cá fora a olhar pra ela, passado um bocado lá parou de ranger e deitou-se a olhar para mim também mas sair cá para fora nem pensar. Já cede a um bom bocado de queijo, logo rachará completamente, é só uma questão de tempo.

I.

domingo, novembro 22, 2009

Estava aqui a pensar

que as caixas de comentários de certos blogs me entertem melhor que a televisão.
Estou a aproveitar as 4 horinhas de viagem, vá agora já só faltam 3.5, para pôr as leituras da net em dia que durante a semana só espreito meia dúzia dos muitos "sítios" que gosto de acompanhar.
Grandes tertúlias que se faziam se o pessoal que escreve e participa como comentador em certos e determinados blogues se juntasse de vez em quando. Seria tão mais saudável do que estarmos todos feitos tolinhos a carregar em teclas dispostas quase ao acaso e a abanarmos as cabeças em frente a um monitor em jeito de desaprovação ou de concordância. Ele é a gripe, as vacinas, o Sócrates, os cogumelos, tudo serve e sinceramente tenho lido coisas dignas de um prós e contras. A Fátima Campos Ferreira ia gostar de vos ter lá.
I.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Tão perto e tão longe, vai ser sempre assim

Perto, por mais longe que estejas...
Sei que te tenho sempre aqui ao pé ou mesmo ao alcance do telefone, do computador ou até do avião.
Adoro-te, a sério.
És cru, sempre tu mesmo, dono de um sentido de humor que sempre me agradou, inteligente, racional, simples, frontal, são, tudo o que eu gosto e valorizo, não há publicidade enganosa a teu respeito, está tudo à vista. Se chamo sei que só não vens se não puderes, contas com o mesmo do meu lado, sei que sabes, não há desculpas ou fretes. Se preciso de um abanão, sei que mo darás, como já tantas vezes deste; eu só te sei dizer o que penso, áspera como tu dizes, ácida, já não me ofendem esses adjectivos, sei que para ti é uma qualidade.
Conheces-me. Dizes em jeito de explicação com ela é assim... ou isso para ela quer dizer isto... quando ninguém percebe o que estou a tentar demonstrar e que é tão óbvio para ti e para quem me sabe de cor. Os meus sinais já os conheces, quando já não aguento mais, quando não gosto de uma pessoa, quando estou cansada, quando estou triste até dizer chega e a fazer de conta que não, sei lá... A ti já não te leio tão facilmente, não deixas, nem queres que se veja mas eu tento porque é a única maneira de saber como estás. De mim sabes as coisas porque tas conto, de ti sei as coisas porque as adivinho, as subentendo, é difícil mas tu és assim já sei.
Engraçado como até agora nunca estivemos afastados muito tempo; a vida, ou tu, fizeram questão de nos juntar nas mudanças que sofremos. Estiveste sempre por perto, acredita que foste a minha âncora este ano que passou, puxaste-me à superfície muitas vezes e ajudaste-me a boiar até que conseguisse fazê-lo sozinha.
És o meu melhor amigo, sem cobranças.
Adoro-te, a sério.

I.

Há semanas desgraçadas

Se agora desse largas à mulher do norte que sou, acho que desatava às asneiradas ao olhar para o que foi esta semana, o problema é que já estou no trabalho e não dá grande jeito.
Fui protagonista de uma peça de teatro que não sei se hei-de classificar como drama ou comédia, pelo menos tragédia não chegou a ser o que só por si já é óptimo. Quando isto acontecer outra vez agradecia ao fulano que se esconde atrás das cortinas que bata as pancadinhas da praxe, assim só para eu ficar avisada que vem aí uma semana divertida, que se ele as bateu esta semana não ouvi nada, tem que ser mais forte está bem? E ainda dizem que tenho ouvido de tísica...
Por exemplo ontem.
Tive que assistir a um bisturi a avançar directo a mim, para me cortar a frio, sem anestesia, numa zona assim para o delicado; tudo isto dirigido por um médico, bastante jeitoso por sinal, que me dizia que a única coisa capaz de evitar isto é uma boa esfoliação. Como se eu não soubesse... Mas giro foi quando ele começou a enfiar um fio preto fininho numa agulha estranha e me disse que com dois pontos aquilo ficava resolvido. A última vez que me lembro de me coserem foi há muitos, mas muitos, anos atrás. No queixo, 5 pontos, porque a chica esperta desmaiou no cimento depois de fazer, à vontade, 20 pinos e aranhas para trás e para a frente seguidas, já nem me lembro se era médica ou enfermeira mas lembro-me perfeitamente de ela exclamar que estava difícil de coser porque não havia pele para agarrar...
Tive também que me conter quando a ATM onde fui toda contente levantar dinheiro engoliu o meu cartão multibanco. Por motivos de segurança disse ela. Segurança de quem, minha amiga, só se fôr a tua! E mais logo, vou pagar 2 kilos de maçãs, 4 iogurtes e uma caixa de pastilhas com o cartão de crédito, é? É, que é para aprenderes a ver quando é que os cartões caducam.
E hoje?
Hoje é dia de viagem portanto há que ter a tralha toda à porta de manhã para ser só sair. 7:30. Portátil, check; carteira, check; tarte de maçã, check; chaves, check; sapatos nos pés, check; cabeça em cima do pescoço, check; está tudo, vamos embora.
Fechar a porta, elevador, padaria, paragem do autocarro. Na fila para entrar, breve revisão mental dos 'checks', acho que me falta qualquer coisa... Portátil, check; carteira, check; tarte de maçã, check; chaves, check; sapatos, check; cabeça, check; mochila, ..., mochila, ..., mochila, ... A mochila ficou em casa. Vá lá, dei conta antes de chegar ao trabalho, já não é mau.
E o resto dos dias?
Isso fica entre mim e os rascunhos do blog...

I.

quinta-feira, novembro 19, 2009

As maçãs

Acabei de enfiar isto no forno...

I.

quarta-feira, novembro 18, 2009

As viagens

Esta última viagem foi das melhores que já fiz. A mais descontraída, sem pressões, bem disposta, calma, nem parecia que não estava em casa, aliás passei o tempo todo a dizer isso, Nem parece que não estou no meu país... Não fomos com a ideia de ver tudo em tempo record nem tão pouco de ver tudo, fomos pelo prazer de passear, de conhecer a cidade a pé sem sermos muito turistas, de apreciar uns dias diferentes do habitual e isso tudo foi conseguido. Éramos 4, conhecemo-nos relativamente há pouco tempo, meio ano se tanto, mas encaixámo-nos tão bem umas com as outras que ninguém diria, tanto que ficámos com vontade de repetir e parece-me que vai ser para breve.
Sempre disse, ou pensei, que haveria países onde muito dificilmente iria mas parece-me que essa espécie de preconceito estúpido vai ficar para trás como tantos outros ficaram este ano. Moçambique e Índia estão no horizonte dos próximos 2 anos, mínimo 3 semanas para um banho completo; entretanto penso que me vou dedicar a conhecer Itália em pequenas escapadelas como fiz desta última vez, calmamente. Não se pode pensar muito ou nunca se faz nada do que queremos, ou perco tempo a remoer ou o aproveito para fazer qualquer coisa, prefiro esta segunda hipótese.


Onde está o Wally?

I.

segunda-feira, novembro 16, 2009

"Pára de ensaiar a vida!"

Este foi um dos melhores conselhos que já me deram, sirvam-se se quiserem. Na verdade foi mais "Porra pá! Pára de ensaiar a vida!" mas vai dar ao mesmo. A autora diz que se lhes estão a acabar as frases giras mas eu sei que não...
Quantas e quantas pessoas não tentam antecipar tudo o que lhes pode acontecer se fizerem isto ou aquilo? Perdem horas de vida a pensar no que as coisas podem ser em vez de aproveitar esse tempo para agir; eu sei, eu sei que tenho essa mania, a do "E se..." E também a de ter o discurso todo pensado de cada vez que peço um conselho porque, na verdade, não quero um conselho, quero que me confirmem o filme que já montei.

I.

sábado, novembro 14, 2009

Porta 19, Piso 0, Sector 17, Fila E, Lugar 20

A esta hora é aqui que eu estou (se um fulano qualquer não se sentou já no meu lugar), no estádio da Luz, por vontade própria, quem diria.
A última vez que fui "à bola" já foi há tanto tempo... Quase de certeza no estádio do Dragão, ou foi no Cidade de Coimbra? Já não sei, num ou noutro, por arrasto isso sei, eu que até gostava de futebol apanhei-lhe uma raiva que só agora está a passar.
Pena não ter cachecol...

I.

sexta-feira, novembro 13, 2009

As lembranças

Quando ontem à tardinha pelo relógio, mas já à noite pelo céu, vi as mantas enroladas no carrinho à porta do Kaffehaus tive um flashback, só me apeteceu pegar numa e sentar-me a uma das mesas que agora há cá fora. Ainda falei nisso mas recebi de volta um está frio, não? Não, mas vamos lá para dentro então, saíu-me da boca, não faz mal, gosto deste sítio de qualquer maneira; das janelonas que deixam entrar a rua pela sala dentro, dos móveis pequenos e baixos, dos candeeiros descidos e da meia-luz que deles sai. Ali murmura-se, é engraçado.
Pedimos chá, de menta para as duas, não é de saquinho, é mesmo com folhas de hortelã a boiar na água, e ali ficámos um pouco a pôr a conversa em dia. A R. foi uma das boas surpresas deste ano que passou, muito miúda por fora mas graúda q.b. por dentro, desmontou a ideia que eu tinha da geração anterior à minha; isto este ano foi só desmontar ideias pré-concebidas, tem dado uma trabalheira desgraçada...
Quando fomos embora fiquei a pensar nas mantas que punha nas pernas, nos chás que bebia e nos strudels que comia há tempos atrás, um frio de rachar e eu sentada na rua, com luvas, cachecol, casaco apertado e por vezes gorro. O nariz frio, quase húmido, mas fumo a sair da boca que fervia por causa da bebida quente. Às vezes sozinha, outras acompanhada, o frio não me assustava minimamente, aliás ainda hoje não me assusta já a chuva sim.
Aquele tempo foi um misto de coisas muito más e muito boas, tenho tido tendência para apenas me lembrar das boas o que é óptimo, diria mesmo que é bom sinal.

I.

Digo eu

O pior sentimento que nos pode afligir causado por terceiros: a rejeição.
O pior sentimento que nos pode afligir causado por nós próprios: a culpa.
O pior sentimento que nos pode afligir, ponto: a solidão.

I.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Os bichos II

Aquela coisinha castanha chegou a minha casa ainda bebé-cadela. Foi baptizada de Lobita after her mother que foi assim chamada ela própria por se parecer com um lobo, sempre tive medo dela, da mãe, nunca me chegava muito perto do pátio onde ela estava presa e evitava passar ali a todo o custo. Era tentador porque havia um atalho lá perto que ia dar a minha casa, pensava sempre duas vezes antes de ir por lá e se a ouvia ladrar pensava cem vezes em vez de duas. Não sei se ainda é viva, a mãe, espero que não que diz que sobreviver a um filho é horrível; vou poucas vezes para aqueles lados ultimamente, acho até que o carreiro já nem existe, não teria motivos para lá passar.
Tal como os nossos filhos, não que eu os tenha, são sempre os mais bonitos e mais inteligentes, a Lobita não sendo propriamente bonita era muitíssimo inteligente, lá isso era, e quando se é inteligente para quê ser bonito? No mundo dos cães ainda é assim, os homens têm muito que aprender com eles. A felicidade dela era andar à solta e ouvir o motor do tractor a trabalhar porque depressa aprendeu que isso queria dizer passeio. Mal ouvia aquele barulho abanava tanto a cauda que em vez de abanar só a cauda abanava a metade traseira toda do corpo, ladrava esganiçada a pedir que a soltassem para que pudesse ocupar o lugar dela, toda orgulhosa, na caixa traseira. Não saía dali nem que lhe dessem um perú recheado, deixava-se levar no tractor, sentada o melhor que podia a olhar para nós que ficávamos em casa como que a despedir-se, Vêem? Eu vou e vós ficais!
Outro dos prazeres da vida dela eram os coelhos. Não comê-los, quer dizer não sei talvez também fosse, mas olhar para eles como que hipnotizada, seguí-los com o olhar e se por acaso algum se aproximava do alcance dela, pôr-lhes a pata de cima, deitar-se e abraçá-los; só isso. Enquanto olhava para eles não adiantava de nada chamá-la, dizer-lhe que a soltávamos ou pôr-lhe o tal perú recheado à frente, a única coisa que mexia eram as orelhas quando ouvia o nome dela, de resto os olhos continuavam postos nos coelhos e o corpo em posição hirta e firme. Que fascinação aquela, nunca percebi. Também tinha os seus ódios de estimação, duas pessoas lá da terra. Não sei como é que ela os cheirava de tão longe mas ficava com o pêlo todo no ar e ladrava que nem uma louca quando eles vinham pelo caminha acima. Nem precisávamos de os ver para saber que eram eles.
Mal chegava a casa de fim de semana, pousava a mala ou a mochila na rua, à porta de casa, e ia cumprimentar a cadela e os gatos. Quando me via fazia aquela coisa de abanar a metade traseira do corpo e armava o salto para quando eu já estivesse suficientemente perto dela, acabava sempre por me sujar toda com as patas da frente no meu peito e por me lambuzar a cara com a língua, que nojo, por vezes soltava-a e ela agradecia-me voltando a saltar-me para cima. A minha mãe não gostava mas já estava e o que interessava é que cada vez que a soltava ela gostava um bocadinho mais de mim. O meu irmão fazia o mesmo, claro.
Também me zangava com ela, sobretudo quando lhe dava para ladrar de noite e me acordava às tantas da manhã. Eu, farta de a ouvir, saía de casa e ia ter uma conversinha com ela, como se ela me entendesse, que não eram horas de estar a ladrar assim, Vê lá se queres que te feche na garagem!, e por vezes fechava mesmo depois de me ter levantado 2 ou 3 vezes. Enfim, coisas de garota.
Agora acabou.

Grande testamento por causa de um animal, mas não era um animal qualquer, era o meu e este ao menos nunca me desiludiu. Os animais, como as pessoas, não se substituem mas, ao contrário de certas pessoas, acho que vale a pena continuar a investir neles e dar a outro, e a nós mesmos, a oportunidade de termos uma história como eu tive com a Bibi e como muitas outras pessoas têm com os seus animais. É o que posso fazer para expiar algum do mal que se lhes faz por aí, como o Nietzsche que se abraçou ao cavalo que morria pedindo-lhe desculpa. Com a diferença que eu não estou a ficar louca.

I.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Os beijos

Tirado do meu filme preferido (Cinema Paradiso), já o vi de certeza mais de uma centena de vezes... Esta cena, mesmo no fim, é de ir às lágrimas, arrepia.

I.

Início das festividades

O Natal por aqui, que é como quem diz pelo sítio onde trabalho, vai começar ao mesmo tempo que nas lojas, ou seja, já agora. E também vamos seguir a bela tradição dos saldos ou reduções, ou lá o que é, logo a seguir ao Ano Novo!
Cânticos (dá para imaginar de quê) já se fazem ouvir, luzinhas e postais (de despedimento) ainda não vi, ninguém sabe se e que prenda vai receber mas anda tudo muito feliz.

Isto vai fazer manchetes, digo-vos eu.

I.

terça-feira, novembro 10, 2009

Estou tão triste

A minha Bibi morreu.
É estúpido mas não consigo parar de chorar, aqui mesmo em frente ao PC.

I.

segunda-feira, novembro 09, 2009

E foi assim...

Só choveu no último dia, e os aviões portaram-se bem na ida e na volta. É uma cidade linda, pitoresca, onde me senti muito bem.
Já tinha tirado a ideia do passeio de gôndola da cabeça mas conseguimos um preço mais que razoável comparado com os 70 ou 80€ por pessoa que por lá vimos, e digo já que vale a pena, foram 25€ muito bem empregues. Pessoas simpáticas e Italianos charmosos, língua cantada, ambiente calmo, em suma: adorei.

Basílica de S. Marcos



Vista da Praça de S. Marcos


Ponte dos Suspiros invadida pela publicidade...



Passeio de Gôndola...

(péssima) vista de noite

I.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Os canais e as gôndolas

As viagens que melhor correm são aquelas em que embarco sem pensar muito. Quando há uns tempos me desafiaram para ir a Veneza, disse que sim em 5 minutos e a esta hora (se o avião não caíu) já lá estou, eu e mais duas miúdas para um fim de semana prolongado de boa disposição e passeio. Ir de mini-férias e levantar-me às 5:30 da manhã é que realmente...
Escolher Novembro para ir a um sítio destes é desafiar o S. Pedro no território dele mas pode ser que ele se compadeça de nós. Pelo sim pelo não levamos galochas.
No domingo à noite estou de volta (se o avião não cair) para no dia seguinte voltar ao marasmo do dia a dia...

I.

quinta-feira, novembro 05, 2009

As diferenças

Coisa estranha, pensava eu, umas com a cabeça toda tapada enquanto outras andam com o rabo praticamente à mostra. É isto a liberdade, a tolerância.
Brancos, amarelos manteiga, vermelhos, castanhos, pretos, sempre os vi em todo o lado. É isto a pluralidade. Não penso que têm a pele suja porque não é da mesma cor que a minha, só a inocência de uma criança que vê uma pessoa diferente pela primeira vez justifica tal ideia. Aliás esta ideia saíu mesmo da boca de uma criança...
Na rua havia chadores com fartura, burkas nunca vi, turbantes, crucifixos discretos algures de certeza, ligas de espinhos à volta das coxas debaixo da saia ou das calças improvável mas talvez, nada disto devia incomodar ninguém (será que não?) e está muito bem.
Na escola fiava mais fino. Nada. Nem lenço na cabeça, nem cruz ao pescoço (será?) ou na parede, nem Quipás (talvez no bolso), nem Menorás e também está muito bem. A escola é laica e é assim que deve ser, acho que sim. Daí o espanto do meu irmão no primeiro dia de aulas cá: "Mãe, mãe! Porque é que há um crucifixo por cima do quadro na escola? Ando numa escola de freiras?!"
No entanto, havia ementa sem carne de porco para quem não podia comer. É isto o respeito (será?). Pronto, não havia tapetes virados para Meca. Isso seria o cúmulo (ou não?).
Muitas vezes dá-se um dedo e as pessoas querem o braço todo. Muitos problemas começam assim. Não são os acolhidos que se adaptam; do ponto de vista deles são os acolhedores que se devem transformar à sua medida. Mas isso não é ser acolhido nem lutar por manter a individualidade, é querer fazer nosso o que é dos outros. É deturpar o conceito todo, é não respeitar, é não tolerar, é querer impôr, é tudo ao contrário do que devia ser. Cá também temos alguns assim. Infelizmente.

I.


quarta-feira, novembro 04, 2009

Decisão

Pronto, está decidido, estou com a neura logo vou cortar o cabelo. Direcção Armazéns do Chiado.

I.

Constatação

Há pessoas que não sabem falar ao telefone sem gritar.

E que ainda por cima parecem ruminantes a comer.


Só me apetece bater-lhes.

I.

E se... II

... um dia destes todas as lojas, comércios, shoppings e afins passassem a estar fechados ao domingo, já nem digo ao sábado à tarde?
... as lojas fechassem diariamente às 18h?

Deu-me para pensar como seria a (minha) vida em Lisboa se isto passasse a ser assim uma vez que esta foi uma realidade em que já vivi durante uns tempos. Foi aí que senti que estava completamente agarrada, tipo drogada, à vida de consumo ou de tentação de consumo. Acho que a grande maioria das pessoas está. Voltei a pensar nisto porquê? Confesso que foi depois de uma entrevista que vi anteontem e que não era bem acerca disto, salvo erro era com a Márcia Rodrigues.
Será que aí Monsanto, Belém, o Jamor, o Parque das Nações, os parques dos arredores, as praias, os passeios marítimos, os museus, sei lá, chegavam para todos? Seriam sequer estes os novos locais escolhidos pelas pessoas? Ou seriam mais as PS, as Wii e outras que tais a confortar-nos?
Primeiro, duvido seriamente que uma proposta destas surja por cá uma vez que ainda há relativamente pouco tempo se fez o oposto, a adesão seria quase nula, o benefício seria visto como inexistente, os protestos seriam generalizados e o pobre desgraçado a propôr uma coisa destas seria crucificado de cabeça para baixo. Posso-me enganar, não sei.
Segundo, imagino o pânico semeado por aí. Neste país, e noutros eventualmente mas esses não interessam, onde ficar em casa uma tarde a fazer qualquer coisa, seja ele ler, gatafunhar, bater um bolo, crepes, um jogo ou simplesmente nada é sinónimo de castigo; onde grande parte das pessoas arranja "boas" desculpas para não andar ao ar livre, ora está muito calor, ora muito frio, ou é muito cedo, ou já está de noite, as crianças constipam-se e sujam-se, bla, bla, bla. Estou a exagerar obviamente, tenho visto por aí óptimos exemplos de pessoas que recusam enfiar-se em centros comerciais sistematicamente e que procuram alternativas, porque as há e algumas de graça imagine-se.

Andamos com os olhos tão tapadinhos por vezes...

I.

terça-feira, novembro 03, 2009

Hiper realistas

Eu sei que o realismo e o hiper-realismo estão fora de moda mas continuo a achar impressionante. Modas fora nove, é bonito.

Jogo triplo

Há pessoas que fazem parte do meu dia a dia, pessoas que supostamente me conhecem bem mas não fazem a mínima ideia daquilo que é a minha vida em certas alturas.
Há outras que nunca vi, com quem apenas conversei por palavras escritas ou que vejo esporadicamente mas que sabem aquilo que os outros não sabem.
Depois há uma que não me é nada mas que sabe tudo; a minha bengala como gosto de lhe chamar. Foi ela que me ajudou a pôr-me de pé.
Achava que já podia pô-la de parte mas ainda não, pelo menos não totalmente... Ontem dei-me conta da falta que me fez. Há coisas que não desaparecem nem deixam de acontecer só porque queremos muito que não aconteçam. Quando acontecem temos, pelo menos eu tenho, que ter alguém que nos reorganize a cabeça; até podemos ser nós próprios mas se não conseguirmos sozinhos é bom termos alguém capaz disso.
Fraca? Só mesmo para mim mesma. Não por muito mais tempo.

I.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Os bonecos

A banda desenhada é daquelas coisas que eu acho que parece para crianças mas que afinal é para adultos. Melhor dizendo, acho que serve aos dois mundos, é é sem dúvida entendida de maneira diferente; com 10 anos lia literalmente mas com quase 30 leio nas entrelinhas, agora vejo-as e fazem-me abanar a cabeça muitas vezes.
Herdei uma colecção de BD já em estado avançado em miúda e desde aí o bichinho ficou. Não evoluiu muito em termos de estilo porque o que vai aparecendo não me convence por aí além, é tudo muito dark para o meu gosto, é como se tivesse ficado presa ao passado, um género infantil onde alguns animais falam e pensam, onde crianças têm super-poderes, onde génios renascem caricaturizados, onde os adultos fazem os seus papelinhos tolos (curioso, muitos serem jornalistas ou as histórias se passarem em redacções). Tenho muitos álbuns nas línguas originais (viva os Belgas!), alguns traduzidos em português, compro-os cá, mando vir de fora, outros são-me oferecidos por quem sabe desta minha queda (isto não se pode dizer a toda a gente, leva-se logo com um carimbo em cima). Pego neles sempre que me apetece rir ou chorar a rir porque sei que funciona lindamente. Já foram lidos e re-lidos dezenas de vezes (isto é mesmo uma mania...), não sei dizer de quais gosto mais mas se tivesse que eleger um e só um seria o Gaston. A personificação da preguiça e da procrastinação (gosto tanto desta palavra...). A próxima aquisição é o álbum dos 50 anos do Astérix, tinha que ser, hoje vou ver se já chegou em língua original e aproveito para o ler in loco.
Se algum dia passarem por uma FNAC e virem uma tontinha sentada no chão a ler BD, a rir-se sozinha ou a abanar a cabeça é provável que seja eu...

I.

E foi assim...

Apesar de tudo o que refilei foi lindo, não deixou de ser seca mas foi lindo. A noiva, o noivo, o dia, o lugar. A noiva esteve 90% do tempo com os olhos cheios de água e tenho que confessar que durante certos momentos eu também.
Afinal somos primas, ela fez parte da minha vida muitos anos, fizemos muita asneira juntas e no fim é isso que importa porque é disso que me quero lembrar. Ficam para trás os tempos em que tomávamos banho na água gelada do tanque do pomar e em que pedinchávamos para ficarmos a dormir em casa umas das outras, em que eu a desencaminhava para lavar ou cortar o cabelo das bonecas que nunca saíam das caixas e para fazer o pino no terraço. Temos as duas cicatrizes desse tempo, eu no queixo ela na testa, levámos os pontos sentadas uma ao lado da outra no hospital, sem anestesia, à homem; levámos a respectiva desanda sentadas uma ao lado da outra em casa dos meus tios.
Ela mudou muito, de certeza que eu também, mas passou o dia a rir e eu espero que dure, espero mesmo.



I.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Não sou uma gaja

No seguimento deste post, venho a descobrir o que eu já sabia há um tempo, não sou uma gaja, pelo menos não como algumas (devo ser uma gaja com i, uma gaija portanto). Seja.
Gosto de coisas bonitas, de saber que existem, de as ver e quando posso de as ter. Se conseguisse descobrir onde se arranjam sementes de árvores das patacas teria mais mas não me sinto infeliz por isso. E isto vale para livros e revistas, peças de arte, cadeiras e candeeiros (sim...mas nunca comprei), trapos e afins. Tudo o que seja bonito, original, criativo, sabendo que bonito é imensamente subjectivo e que original pode ser estranho.
Bem, até aqui nada de novo, gaja que é gaja gosta de coisas bonitas, certo? Se calhar, não sei. Há gajos que também gostam, que sabem apreciar coisas de valor e não estou a falar (apenas) de valor monetário mas de estética, de beleza, de interesse. Gaja que não é gaja gosta disto tudo e ainda de mais alguma coisa mas não precisa de o gritar aos quatro ventos para se valorizar; gosta e pronto, aprecia quando tem acesso, tem se pode, usa se lhe apetecer e ninguém precisa de o saber. Gaja que não é gaja não se sente melhor por, nem precisa de transportar kilos de padrões característicos da marca A ou B, ou de arrastar logotipos maiores que as próprias peças que usa; à gaja que não é gaja acho que lhe chega sentir-se bem com o que sabe que tem e que é. Depois isso nota-se.
Ser Maria-vai-com-as-outras é moda hoje em dia, bajular quem se acha que é alguém e se acha o máximo também, gostar de isto ou aquilo porque apareceu ali ou foi publicitado além então nem se fala. Ser-se individual e coerente consigo mesmo é que é difícil, ter gostos próprios (bons se possível) é que é difícil. Há vida para além da Victoria's Secrets, da Cosmo e do Sexo e a Cidade, é só abrir os olhos e o espírito.
Não sou ninguém para estar a dizer isto mas é o que eu acho.

Tudo porque se falou disto:
A mala Paul&Joe Sister
A agenda Taschen (isto é um pecado não conhecer...).


I.

Dúvida existencial

Rio-me que nem uma perdida a ver a série "The Big-Bang Theory". Isso faz de mim o quê? Nerd, Geek, ambos (já agora qual é a diferença)?

I.

Os sonhos

Esta noite em vez de dormir fui ao cinema ver um filme de terror e non-sense, que grande novidade na minha vida, há quase dois anos que ando a dormir mal como tudo e de ter os sonhos mais esquisitos à face da terra. Já o disse, o Freud e eu seríamos grandes amigos.
Desta vez a vítima foi a minha prima, aquela que vai casar no sábado. Dávamos-nos bem em crianças, não percebo como é que chegámos a este estado. Se fosse só comigo acho que começava a ter complexos mas também é assim com o resto da cambada de primos que somos, 10 no total, já ninguém aguenta aquele blablabla nem aquela atitude de pseudo-tia.
Assim resumindo, tivemos um acidente de comboio ali em Santos e não sei como a miúda foi parar ao meio da linha, tenho a sensação que nos dirigíamos lá acima a casa, na linha de Cascais dificilmente nos safávamos para lá chegar mas adiante. Bem, chega INEM e família, começa a chover e a rapariga estendida na linha. Declaram o óbito e levam-na num trenó pelos ares, tipo Pai Natal. E acordei.
Para quem já sonhou que ia com um colega de trabalho num teleférico ao longo dos Arcos do Jardim em Coimbra, que o tipo caiu da cabine abaixo e morreu, que caí em cima dele sem me poder mexer mas consciente e acordei aos gritos quando no sonho uma pessoa se aproximou para ajudar, isto não é nada. Dessa vez não voltei a dormir mas esta noite fechei os olhos e acordei com o despertador, uma vitória ou a loucura total, não sei.

I.

quinta-feira, outubro 29, 2009

As fotografias

Gosto de re-fazer as coisas (vou pôr os hífens porque me apetece). Re-ler livros e revistas, re-visitar lugares e sobretudo re-ver fotografias.
Não percebo nada de como tirar uma boa fotografia, gostava de saber mas não me mói a cabeça, se as tiro são para mim, para me lembrar do que fiz, onde estive, com quem (às vezes) e para poder lá voltar quando me apetecer, não para ser a próxima Leibovitz deste mundo, então agora é que não quero mesmo.
Para nos calar, a mim e ao meu irmão, a minha mãe costumava dar-nos umas bolsas cheias de fotografias nossas que víamos e re-víamos (lá está...) à exaustão. Estão gastíssimas mas ainda existem e já me dei ao trabalho de as digitalizar para não se perderem. Também andam por lá fotografias da juventude dos meus pais, dos tempos da tropa no Ultramar, da vida do meu padrinho em África, quando ele caçava chitas e crocodilos, ninguém é perfeito mas tirando isto ele era quase. Têm formatos fora do comum para os dias de hoje, não são aquelas típicas 10x15, algumas são quadradas pequenas, polaróides quadradas, polaróides rectangulares, há um pouco de tudo mas todas têm em comum terem os cantos dobrados e as cores já desmaiadas, nada que o bendito photoshop ou coisa que o valha e muita paciência não resolvam (um dia, ou não...). A propósito, lembro-me de uma valente palmada que levei do meu pai porque gastei, com a ajuda preciosa do meu irmão (a pedra constante no meu sapato), toda a carga de papel da máquina Polaroid com fotos das paredes e das janelas; essa máquina ainda existe mas não sei se funciona, está lá perdida no sótão, há muito tempo que não a vejo nem faço ideia onde é que hoje em dia se pode comprar papel para aquilo, era miúda para procurar um dia. Há uns anos descobri as Lomo, há várias e acho-as o cúmulo da criatividade, mas nunca comprei nenhuma, não sei porquê. Uma amiga minha tem uma e aquilo dá fotos extremamente originais. Eu só tenho uma maquineta comum, digital como toda a gente deve ter por aí, nem muito boa nem muito má, serve para o que quero, vai no bolso, na carteira, na mochila até já a meti num tupperware para não apanhar banhos.
Isto do digital foi uma revolução, permite milhentas coisas mas deitou por terra muita da piada que eu achava à fotografia. Já não se espera pela revelação e até se apagam as que ficam tremidas quando toda a gente sabe que os erros é que são bonitos... Cada vez menos passo os momentos que guardo para o papel, fica tudo no raio do computador, aquela coisa física de agarrar nas fotos está-se a perder e é uma pena. De qualquer maneira só as velhas é que têm piada e estas só o vão ser daqui a muitos anos.

I.

quarta-feira, outubro 28, 2009

En vrac, porque tem que sair cá pra fora

Chefinho, se soubesses o quão produtiva tenho sido, despedias-me. Mas não, acabas de me dizer que ficas contente de ver que continuo entusiasmada com tudo aquilo em que me meto, sou muito boa a fingir eu, isso ou andas completamente a leste. Então sacas o coelho de sempre da cartola ou atiras com a lebre mecânica para a frente, como queiras, assim para ver se eu corro como aqueles cães escanzelados, e perguntas-me qual a minha disponibilidade para voltar a ir para fora. Já estou um bocado farta desta conversa, já só me soa a cenoura atada a um fio e eu não sou nenhum cavalo, ou burro. Ando cansada de correr, se calhar é porque estou a perder o gosto, mais um, perdem-se uns, ganham-se outros, a vida é assim, que chavão mais foleiro (quem é que ainda diz foleiro hoje em dia). A culpa é tua também, porque é que não pões as cartas todas na mesa e me perguntas se quero ou não jogar com as tuas regras? Só assim sei com o que conto. é que parece que não mas tenho vida e até nem é muito má, vá, podia ser pior mesmo se há dias em que acho que é uma grande trampa.
Nunca pensei que fosse ser isto que sou, profissionalmente digo, sempre achei que ia fazer outra coisa qualquer, as possibilidades eram (são?) tantas afinal mas parece que bem razão tinham os que me perguntavam para que é que isto dava. Não tinham nada razão, não me posso queixar que isto até dá para muita coisa, eu é que me acomodei a este sítio e a esta área de que não gosto assim tanto e chego agora à conclusão que não vale a pena fazer uma coisa de que só se gosta mais ou menos. No início gostava mais, pelo meio tenho vindo a gostar menos por isso acho que agora só gosto mais ou menos e isso, claramente, já não chega ou então sou eu que sou uma eterna insatisfeita com o que tenho e com o que faço e tenho mas é que relativizar as coisas e ser mais indulgente em relação a mim própria. Quando acho que não estou a ser produtiva se calhar sou tão produtiva quanto os outros, eu é que tenho a mania de dar 430%, sem falsas modéstias, tanto que até chego a sonhar com a treta do trabalho e a resolver alguns problemas durante a noite, por acaso gostava de saber o que o Freud pensa sobre isto, pena não termos sido contemporâneos. Tenho que me deixar disso, aliás tenho-me vindo a deixar disso e por isso acho que não ando a fazer nenhum quando se calhar faço o normal. Faz-me lembrar a M. que passa(va) a vida a dizer que é uma fraude, que não sabe nada, quando hoje está prestes a ir para um centro privilegiado de investigação que não vou dizer qual é mas que é um grande círculo que atravessa a França e a Suíça. Sim, sei que me lês ó miúda, e és tão fraude quanto eu, ou seja, não és nada. É que os verdadeiros medíocres nunca se acham maus.

I.

Blogger templates