quarta-feira, março 09, 2011

Esse dia que passou

Ninguém se admira quando digo que não gosto do Carnaval. Não combina comigo, não tem ponta de sentido e, por muito que tente, não me ocorre motivo nenhum para andar aos pulos antes de me submeter a 40 dias sem desfrutar dos prazeres da carne. Mascarei-me em tempos, como todos os miúdos, mas só enquanto não tive uma palavra a dizer acerca do assunto; lembro-me particularmente bem do meu último ano na infantil, fui de capuchinho vermelho, há-de haver um registo fotográfico dessa época traumatizante da minha vida algures lá por casa dos meus pais. Desde então o Carnaval e eu é ódio de morte.
Desde então também que ficava quase sempre doente nessa altura do ano; pelo menos até me ser reconhecida idade suficiente para decidir o que fazer nesses dias. A partir daí foram anos de Mardi Gras  feitos de caminhadas até ao cimo da Serra da Estrela partindo de pontos diferentes todas as vezes. 3 dias de sossego, longe de máscaras, música irritante e pessoas aparentemente contentes sem saber porquê nem porque não. Na verdade, é mesmo isto que eu abomino, pessoas tolas. 
Alturas houve em que a casa dos progenitores era o refúgio, onde a única coisa que fazia lembrar a época eram os crêpes que virávamos à vez ao fogão e que nunca chegavam a formar uma pilha no prato de servir porque só lá ficavam tempo suficiente para serem polvilhadas de açúcar antes de serem engolidas. A receita que usávamos é a única que conheço e que hoje uso, ainda vem do mesmo livro: o meu primeiro Larousse ilustrado, de capa dura, amarela, cheio de fita cola transparente na lombada.
Será por isto que sempre gostei de ler o dicionário?

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