quarta-feira, março 02, 2011

A fila

Na fila de pagamento dos supermercados penso numa data de coisas. No que fiz nesse dia, no que ainda tenho para fazer, na maneira como o senhor que está à minha frente coloca as compras na passadeira, parece que a mãos pedem licença uma à outra para se mexerem. Será que também vou ficar assim um dia? Despoletar estes pensamentos nas pessoas? Um dia ter desculpa para perguntar se posso passar à frente porque não aguento muito tempo parada em pé ou porque o cesto já me pesa demais? Não me imagino assim; velha, com dificuldade em mexer-me. Tal como nunca me imaginei gorda mesmo quando o era, mesmo agora que já não sou e a cabeça continua a achar que sim.
Perdida assim nestas histórias sou interrompida por um "Desculpe?" um tanto ou quanto tímido. Já me tinha apercebido dos saltinhos impacientes da pessoa que estava atrás de mim mas ainda não me tinha virado para ver. Eu própria sofro de agitação psicomotora involuntária, deve haver outros como eu, nem liguei. Mas o "Desculpe?" fez-me virar. Vi uma moça, bonita com um sorriso meio envergonhado e que me abria o casaco para me mostrar a barriga redonda. "Desculpe, posso passar?". Sorrio em retorno e solto um "Faça favor!", pois se estou numa fila com prioridades atribuídas não faço mais que a minha obrigação.Ela volta a sorrir, ainda mais envergonhada e diz-me mesmo aflita "Muito obrigada. É que eu só quero ir para casa depressa, tenho tanta vontade de melão..." ao mesmo tempo que coloca o dito, maior que a barriga dela, na passadeira. Engraçado. Também não me imagino assim...


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