sexta-feira, novembro 18, 2011

A viagem

É estranho; já fiz tantas viagens como esta mas nenhuma igual. O autocarro inteiro vai no perfeito silêncio; de vozes humanas é claro. Não há ninguém a falar ao telefone, o míúdo loiro que se estava a rebolar no chão em Sete Rios deve ter adormecido, rádio desligada (ou é desligado?), não ouço conversas; é mesmo estranho; há dias em que a viagem parece um passeio pela feira da Ladra. Há os pneus na estrada molhada; o rame-rame do motor; o som dos carros que me aproximam, passam por nós e se afastam; o vento na fresta da janela do condutor e o tic-tic-tic irritante do pisca de cada vez que mudamos de faixa. Ouço-me a bufar também, queria chegar mais depressa, ou melhor ainda, piscar os olhos e já estar em casa. Festa na gata, no gato, beijos aos pais, pijama, livro, botija e cama. Só isto. Nada de muito difícil e no entanto impossível.
Não é justo.

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