segunda-feira, junho 21, 2010

Ontem

Eu e o meu livro na Gulbenkian enquanto espero pela M. O meu livro, um café, uma data de gente e eu na cafetaria da Gulbenkian para ser mais precisa. 
Há os novos, os velhos, os assim-assim, os que conversam, os que ouvem, os que lêem, os que apanham seca, os que fazem nada e os que observam os outros. Confesso que, às vezes, gosto de fazer isso; de me sentar, de pousar o meu livro e de rodar a cabeça como se fosse uma câmara e ficar a ver o que se passa à minha volta. Ontem, havia a senhora da mesa do canto que só estava acompanhada por um jornal e que, quer-me parecer, fazia o mesmo que eu. Cruzou o olhar dela com o meu algumas vezes, quase que me deu vontade de rir. Havia uma mesa com adultos onde se discutia nem sei bem quê, sou tísica mas nem tanto, e a das crianças mesmo atrás da deles onde se falava baixinho com os queixos apoiados nas mãos. Havia uma mesa, mesmo ao lado da minha, com duas tias, que me desculpem as senhoras mas não me ocorre nenhuma outra palavra para as catalogar, que falavam daquela que eu não sei quem é nem quero saber; uma delas dizia muitas vezes à outra "Já viste, ela blablablabla...". Às tantas cansei-me desta brincadeira parva, virei-me para o meu livro e ia só espreitando a entrada da sala à espera de ver aparecer a M.
A M. chegou, já não a via há meses mas está na mesma. A M. pinta lindamente, desenha lindamente, saem-lhe coisas das mãos com uma facilidade que invejo, admito, mas que admiro mesmo muito. Podia ir às aulas de pintura só para a ver trabalhar ou só para olhar para a paleta dela que, a maior parte das vezes, me prendia mais a atenção que o meu próprio exercício. Tenho saudades dessas aulas, tenho que ver se arranjo um tempinho para voltar, ela perguntou-me se não me quero inscrever de novo, ela diz que tem ido e que é bom. Pois... 
Quando as luzes começam a piscar é porque está na hora de ir embora, o espaço vai fechar. Sempre é mais elegante piscar as luzes do que enxotar as pessoas para fora da sala, concordo, nós já sabemos o que aquilo quer dizer de modo que fomos apanhar sol à rua e continuar a conversa. Lá fora, para minha surpresa ou não, havia imensas crianças, pareciam cogumelos depois da chuva, não sei de onde saíram tantas! Gostei de ver as que rastejavam pela relva e pelos passeios de pés e mãos descalças e com chapéus na cabeça, sem pais atrás a gritar José Maria, venha cá que se suja todo. Dois deles vieram ter connosco, mano e mana, lindos de morrer. E ali, debaixo daqueles panos, havia muitos outros à espera para ouvir uma história. A entrada só era livre para menores de 3 anos mas nós lá conseguimos passar incógnitas...

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