sexta-feira, junho 18, 2010

Os padrões

A minha mãe, senhora simples mas com sentido de estilo, gostava de se sentir bem vestida e calçada, a bem dizer parece-me que ainda gosta ou não fosse ela mulher de gema.
Certa vez, era eu bem pequena, contei quantos pares de sapatos existiam no armário dela e fui-lhe dizer muito aflita, o número não era nenhum exagero mas eu lá achei que como só tinha dois pés aquilo era muito. Lembro-me que a resposta dela foi algo deste género "os sapatos certos enfeitam até o trapo mais velho".  É claro que não foi bem isto mas o que ela me quis dizer, acho eu, foi que aquela coisa que pomos nos pés pode fazer a diferença. Isso, as mãos e o cabelo, coisa que ela sempre fez questão de tratar ela própria e que lhe custou muito a perder uma certa vez. Enfim, é este tipo de coisas que as mães passam às filhas, não? Sim. 
Curiosamente, em pequena, eu detestava ir às compras com ela. Tinha por hábito visitar algumas lojas de tempos a tempos, especialmente uma em que quem a atendia era sempre o mesmo senhor; ele sabe do que gosto, dizia ela, mas para mim aquilo era um suplício. "... esta blusa com aquela saia, se quiser pode conjugar com este casaco ou então com este. Para esta ou aquela ocasião, troca por esta blusa e muda para um  sapato mais alto..." Entra no provador, sai do provador; temos que descer a bainha, frito e cozido, aquilo era interminável. Mas o que me fazia mesmo mas mesmo espécie, eram os padrões e as cores que ela usava e ousava combinar. Pied-de-poule, flores pequenas estilo Liberty, flores grandes estilo Laura Ashley, bolas, xadrez, eu sei lá, aquilo fazia-me impressão, fez-me durante muito tempo e acho que continua a fazer por isso prefiro o liso, o neutro e, quando muito, conjugar texturas diferentes. 
Posto isto, imaginem o meu espanto quando dou por mim a vasculhar no guarda-roupa da minha mãe, a tirar de lá um vestido-blusa totalmente florido em tons de azul com salpicos de rosa pálido e a achar que, se desse um jeito àquelas mangas, ia ficar lindo em mim. Agarro nele, vou ter com ela e pergunto se me pode encurtar as mangas. Os olhos dela esbugalharam-se, isso era meu!, pois era..., é Italiano veste lá, isso com um cinto fica óptimo. Vai-me buscar um entrançado castanho, deixa-mo meio solto na cintura e diz que dá para usar tanto com salto como com bailarina. Pronto, está a tenda armada... 
Ontem passei-o a ferro, queria vesti-lo hoje mas o tempo ainda está demasiado fresco. Desde que eu mando no que visto acho que nunca usei padrões. Parece que há mesmo uma primeira vez para tudo.

1 comentários:

S. C. R. disse...

Olha que fixe. Muito bom mesmo.
A minha mãe era igual.
Com a diferença de que ela fazia a própria roupa dela.

Deves ficar linda.
Depois quero ver isso.
Beijo.

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