quinta-feira, novembro 18, 2010

As lembraças

Há coisas às quais eu acho graça porque me fazem lembrar coisas que em tempos ouvi como conselho ou como aviso ou que só ouvi, ponto final, e por qualquer motivo registei na cabeça. Um delas aconteceu no outro dia; era uma senhora que pela manhã, ali pelos lados do Conde Redondo, ia a entrar numa pastelaria com duas miúdas. Ia a fumar, as miúdas entraram e ela demorou-se só para acabar o cigarro. Eu estava parada no semáforo, tinha tempo de sobra para divagar. Internem-me mas olhei-lhe para os pés e reconheci os sapatos, apostava um dedo que saíram de uma loja qualquer naquela avenida que sobe para o Marquês. Logo, logo a seguir o meu olhar subiu mais um pouco e os cantos da minha boca distenderam-se ligeiramente ao mesmo tempo que a minha cabeça começou a abanar; assim como quem quer dizer tsss, tsss, tsss... A saia da senhora, preta e ajustada a bater nos joelhos, tinha mais de metade da bainha descosida à frente e atrás. A mim, aquilo soou-me a uma nota completamente fora de sítio. Era impossível não reparar. De que valem uns sapatos daqueles coroados duma saia daquelas?
A minha mãe sempre me disse que os sapatos certos são capazes de fazer brilhar o conjunto mais simples mas acho que não se referia a isto. Tenho que lhe perguntar.

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