Há coisas às quais eu acho graça porque me fazem lembrar coisas que em tempos ouvi como conselho ou como aviso ou que só ouvi, ponto final, e por qualquer motivo registei na cabeça. Um delas aconteceu no outro dia; era uma senhora que pela manhã, ali pelos lados do Conde Redondo, ia a entrar numa pastelaria com duas miúdas. Ia a fumar, as miúdas entraram e ela demorou-se só para acabar o cigarro. Eu estava parada no semáforo, tinha tempo de sobra para divagar. Internem-me mas olhei-lhe para os pés e reconheci os sapatos, apostava um dedo que saíram de uma loja qualquer naquela avenida que sobe para o Marquês. Logo, logo a seguir o meu olhar subiu mais um pouco e os cantos da minha boca distenderam-se ligeiramente ao mesmo tempo que a minha cabeça começou a abanar; assim como quem quer dizer tsss, tsss, tsss... A saia da senhora, preta e ajustada a bater nos joelhos, tinha mais de metade da bainha descosida à frente e atrás. A mim, aquilo soou-me a uma nota completamente fora de sítio. Era impossível não reparar. De que valem uns sapatos daqueles coroados duma saia daquelas?
A minha mãe sempre me disse que os sapatos certos são capazes de fazer brilhar o conjunto mais simples mas acho que não se referia a isto. Tenho que lhe perguntar.
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