segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Ontem

Tenho dois casais ao meu lado, um em cada mesa ao lado daquela à qual estou sentada com uma amiga. Chove a cântaros lá fora, em boa hora entrámos no Royal, vindas da Gulbenkian onde fomos espreitar naturezas mortas, vulgo taças de fruta e animais mortos para a maior parte das pessoas.
Enquanto vem o café e não e enquanto a R. fala comigo acerca de nem sem bem quê, olho para eles e para outros e também para o relógio de cuco que está quase ao pé do tecto na parede da frente. O raça do relógio é bonito, todo branco, só o cuco, minúsculo, é vermelho; pergunto-me se toca todas as horas, se sim nunca o compraria. Estou consciente que os meus olhos se estão constantemente a desviar dos da R., não gosto porque ela percebe que não estou a dar-lhe toda a atenção que é suposto mas não consigo evitar.
Os da esquerda estão sentados um à frente do outro, cada um com seu portátil à frente. Não estão a conversar nem a olhar um para o outro, olham fixamente para o ecrã e carregam em teclas. Sei que estão os dois a escrever nos seus blogues, desculpem mas espreitei (até sei o título de um deles), e só os ouço falar quando a bateria de um decide ir abaixo. É grave, estava a "postar" o moço, é o drama. Ela vira-lhe imediatamente o netbook dela; deve ser isto o amor.
Os da direita também estão sentados um em frente ao outro, cada um com o seu iphone na mão. De vez em quando levantam o rabo da cadeira para se debruçarem sobre a mesa e darem um beijo. Logo a seguir sentam-se e continuam a fitar o telefone. Será que estão a falar um com o outro através daquilo? Já acredito em tudo, tudo é posssível. Então, ele mexe no bolso, tira de lá uns auscultadores e estende-os à menina. Ela pega neles e sorri-lhe; deve ser isto o amor.
Fiquei maravilhada. Não estou a ser irónica, na verdade não sei bem o que estou a ser. Eu é que não percebo nada disto, já acredito em tudo, tudo é possível.
Acabei a noite em Calcutá, comi bem, diria que até demais e vi uma menina a dançar com muito pouca roupa. Os meninos da mesa de trás também gostaram.

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