segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Ontem

Tenho a sensação de estar a ser castigada por todas as vezes em que disse que não gostava do tempo quente, que gosto é do outono, do inverno, do frio e da neve. Não vejo outra razão de ser para este tempo deprimente.
Há 9 anos atrás foi a mesma coisa. Lembro-me de estar fechada em casa dias e dias também nesta altura do ano devido à chuva. Era época de exames e eu, que sempre detestei estudar em casa, nem coragem tinha para ir para uma biblioteca qualquer, o meu sítio preferido para passar tardes agarrada a livros durante os tempos da faculdade. A de Zoologia, pequenina; a Geral, enorme, de tectos altos e com candeeiros verdes individuais, em que o barulho das cadeiras a arrastar perturbava constantemente o silêncio. O xiuu da responsável pelo espaço também se ouvia de vez em quando, abusadores há-os sempre, já se sabe.
Casa não era sítio para estudar, casa era sítio para fazer tudo menos estudar, nunca gostei nada dessas promiscuidades entre estudo e vida pessoal, a mesma coisa com o trabalho, territórios diferentes, sei lá... Mas nesse ano choveu meses a fio, de Setembro a para lá de Maio, tanto que em Março já tinha lentes cinzentas coladas permanentemente aos olhos. Já não podia pensar que quando abrisse a portada da janela do quarto ia estar de novo a chover. Já não tinha posição para ler, coisa que faço quase sempre deitada na cama, pela primeira vez estudei à secretária. Já não podia continuar a olhar para aquelas paredes então a certa altura decidi ir olhar para as do quarto do lado, em tudo igual ao meu, onde nos chegámos a juntar quatro a estudar, duas à secretária e outras duas nas camas. Íamos rodando, normalmente quando fazíamos pausas.
Ontem, porque passei a tarde em casa e chovia lá fora, lembrei-me destes tempos. Experimentei todas as divisões da casa a tentar ocupar-me, liguei e desliguei a televisão, o portátil, desarrumei o material de pintura mas acabei a organizar e a rasgar papéis que por ali andavam há demasiado tempo. Guardo tanta coisa que não faz falta nenhuma, papéis de viagens, bilhetes de metro e de transportes dessas viagens, facturas, cartas do banco, post-its de há anos... Foi tudo fora. Hoje deixei no papelão um saco grande de papel rasgado com a mesma eficiência de uma trituradora.
Se é para deitar fora pelo menos que se faça como deve ser.
O tempo anda esquizofrénico, consoante anda o tempo andam as pessoas, se isto não melhora prevejo tempos difíceis pela frente.


2 comentários:

Brandie disse...

Também fiz isso este fim-de-semana. Nada como nos vermos livre da lixeira que vamos juntando. Anda tudo esquizofrénico e não sei se é do tempo:)

eu... disse...

Eu até quero acreditar que é do tempo :)

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