terça-feira, dezembro 08, 2009

As descrições

Naquele dia estava a correr tudo ao contrário do que tinha pensado, o que é que havia ainda de vir mais... Tinha acordado tarde, pequeno almoço na cama, dormir mais, almoço em vez de lanche, banho, coragem para sair de casa, rua cinzenta, autocarro perdido, grandes voltas para chegar onde era suposto ir. A pé do Rato ao Chiado com sapatos totalmente inadequados para a caminhada, lá fui em direcção à minha vidinha, fazer o que era suposto fazer e fico para jantar com uma amiga em vez de voltar para casa.
Pois, agora já não vale a pena ir a casa, vou mas é esperar por ela, outra amiga com quem tinha combinado sair, e o que é que há de melhor para matar tempo do que ler? Para ler preciso de um livro, onde é que há livros, na Fnac, é já ali em baixo, nem é tarde nem é cedo mas está quase a fechar, tenho que me despachar. É nestes (raros) momentos (graças a deus) que me apetecia que as livrarias fossem máquinas distribuidoras em vez de prateleiras de supermercado. Quero um livro mas estou sem paciência, ou tempo, para escolher; era bem mais fácil meter a moeda e sair-me um qualquer; sim podia comprar uma revista da treta mas um livro sempre fica melhor depois na estante lá de casa. Enfim; ando um pouco em direcção à Literatura traduzida e fico a olhar, tanta escolha, pensa I, pensa, o que é que te aconselharam ultimamente? Aquele escritor japonês, como é que se chama? Como é que era o nome do livro, Kafka à Beira Mar não era, bolas eu já li Kafka e ia dando em doida, eu sei que não tem nada a ver mas a simples menção deste nome diz-me que, a ser o Murakami o autor de hoje, vai ter que ser outro livro.
Sputnik, meu amor. Faz-me lembrar Hiroshima, mon amour; diria que é um bom prenúncio, é já este, pego nele, pago, saio e subo a rua a pensar que só há um sítio onde posso sentar-me a ler a esta hora, peço um chá e tudo, a espera não vai custar nada a passar. Grande burburinho lá dentro, janta-se à meia-luz pela sala toda mas há uma mesa vaga lá ao fundo só para duas pessoas, mesmo à janela. É isso mesmo, sento-me, peço o meu chá de hortelã e abro o livro.
"Sumire era uma incurável romântica, com tanto de obstinada como de cínica. Era dar-lhe corda e desatava a falar pelos cotovelos, mas, caso estivesse na presença de alguém que não lhe merecesse simpatia - que é como quem diz, a maioria das pessoas -, mal abria a boca."
(Ora bolas, nunca ninguém me descreveu tão bem...)
Não sei em quanto voou uma hora e meia.

I.

PS: Agora que penso, obstinada sim, cínica não.

2 comentários:

Carina Oliveira disse...

Tenho imenso orgulho em si.
E adorei que partilhasses comigo o que pensas fazer.
E nao te vais livrar das aulas de Estatistica.

Um beijo grande

eu... disse...

Vamos ver se dizes o mesmo quando começares a levar reguadas... ;)

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