quarta-feira, outubro 07, 2009

Os bichos

Em pequena, tinha um medo terrível de animais. Ficava paralisada quando via um cão de trela a menos de 1km. Mariquinhas pé de salsa ao máximo, mesmo o género de menina que sempre viveu na cidade cujo único animal de estimação imaginável era o peixinho de aquário e por acaso era mesmo. A mortandade por entre os peixes era bastante elevada lá em casa na altura... A maior parte morria de barriga (muito) cheia enquanto outros acabavam, com alguma sorte, felizes e contentes na rede de esgotos da cidade. É incrível, por muito que se dê de comer a um peixe ele nunca está satisfeito! Só pára quando fica a boiar... Mesmo assim são bastante resistentes; lembro-me de um que fez uma viagem connosco de cerca de 1300 km dentro de um frasco enorme. Chegou vivo ao destino mas já não fez a viagem de volta. De resto, a sempiterna vizinha do lado tinha uma yorkshire terrier chamada Zouzou, sempre de laçinho na cabeça, com quem convivíamos de vez em quando. Enfim, o meu universo animal resumia-se basicamente a isto.
A minha mãe tinha pena de nós, de mim e do meu irmão entenda-se. Duas crianças que cresciam sem contacto com a bicharada era uma coisa que lhe custava a aceitar e portanto, de vez em quando, vínhamos do mercado com um saquinho transparente e um peixinho, vermelho, que peixes pretos nunca tive. Já agora, se eles são cor de laranja porque é que se diz peixe vermelho? Ah, tínhamos tudo quanto era livro sobre animais e íamos a tudo quanto era jardim zoológico nas redondezas. Era giro.
Passados uns anos mudámos-nos e passámos praticamente a ter um zoo privado para grande alegria do meu irmão (e para minha também confesso, mas não foi logo)... De repente, do peixinho de aquário fomos subindo de nível para o cão, o gato, a galinha, o coelho, o ganso, o pato, etc, etc, etc. De cavalo para burro? Não. Da cidade para o campo, só. Para mim, foi difícil e ao mesmo tempo foi bom mas isso só percebi bastante tempo depois...
Aprendi às minhas custas que os gansos mordem e que são bichos muito inteligentes e fiéis. Que as galinhas são um bocadinho burras e que os burros não o são nada. Que afinal os patos é que são porquinhos e que as vacas têm mais medo de nós do que nós delas mas como elas são maiores não parece. Os borregos são animais amorosos que tomam por mãe deles qualquer um que lhes dê leite... são fáceis de contentar. Os grilos lá do sítio tinham uma predilecção pelo meu quarto, não sei porquê iam todos morrer à minha mesa de cabeceira ou à minha almofada (o meu irmão era mesmo parvo...). Mais uma coisa, os bichinhos de brasinha no cú só duram uma noite, como toda a gente sabe (menos eu)! O que eu andava a perder... E não estou a ser irónica.
Agora tenho a Lobita, a Chaneca e o Pantera. Em boa verdade, o Pantera é do meu irmão e tem esse nome por causa do Eusébio. Até tem uma coleira vermelha o pobre do bicho... A Chaneca é mãe dele, é a minha gata, e a Lobita, Bibi para os amigos, é a cadela da casa. A Bibi e a Chaneca têm mais de 10 anos (e 10 anos pareço eu ter a escrever assim), qualquer dia vão embora e tenho a certeza que vou chorar mais por elas do que por algumas pessoas. O Pantera é o benjamim da manada, se não se aventurar muito perto da estrada e do carro do meu pai está para durar. Percebem tudo, são melhores do que muitas pessoas, um lugar comum mas é verdade. A gata já esteve dias prostrada à porta do meu quarto... A cadela então, quase fala. O gato é macho e portanto ainda tem tempo para amadurecer, é um puto.
São lindos mas como diz a minha mãe "Pois são, são lindos! Mas EU é que lhes dou de comer!".


I.

PS: Não tenho fotos da Bibi, todos os cães a quem tirei fotos morreram. Tenho um gato preto, longe de mim ser supersticiosa...

2 comentários:

Carina Oliveira disse...

Como eu te entendo.
Só tenho o meu noopinho, mas realmente é a verdade, gosto mais dele do que certa gente que por aí anda.
Recebe-me sempre com alegria e um sorriso. Já aconteceu eu estar doente e ele não sair do fundo da minha cama. Quando perdemos a minha avó, ele sentiu como qualquer um de nós. Será uma perda como a tua. Muito chorada e acima de tudo super sentida.
Porque afinal há animais que sentem, como certos humanos jamais terão sensibilidade para os alcançar.

Um beijinho Inha....

eu... disse...

O que eu gosto neles é que me dão a ilusão que percebem mesmo tudo o que se passa comigo. E "fazem" o que as pessoas não fazem, ficam ali, não te julgam e não te atiram com lugares comuns. Até parece que choram contigo, acho que a Bibi chorava mesmo; quando estamos bem eles também estão.
Grande lamechice...

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